Flávia Villela e Alex Rodrigues
Repórteres da Agência Brasil
Rio de Janeiro e Brasília – A constante renovação de números e da própria concepção artística dos espetáculos é a melhor maneira do circo enfrentar a concorrência das novas opções de cultura e entretenimento à disposição do público. Embora afirmem que não falta plateia para os espetáculos circenses, artistas e representantes da categoria reconhecem a importância da atualização para contornar dificuldades como a proibição da presença de animais.
“É importante que os circos se reciclem e busquem a integração com outras manifestações artísticas que já usam muito das técnicas circenses. Devemos procurar incorporar as especificidades de cada uma delas e tornar nosso espetáculo ainda mais atraente”, sugere o presidente da Associação Brasileira de Circo (Abracirco), Camilo Torres.
Já para o coordenador da Escola Nacional de Circo da Fundação Nacional de Artes (Funarte), Zezo Oliveira, a atividade já vem sendo reinventada por inúmeros artistas país a fora. Assim como Torres, Oliveira sustenta que a cultura circense ganhou força nos últimos anos e que a classe está mais organizada.
“Hoje já vemos prefeituras e governos interessados em financiar projetos e a comunidade circense tem diálogo permanente com o governo federal e está cobrando mais. Hoje temos uma série de associações, fóruns de discussão. Falta a elaboração de uma política mais geral e consistente para o circo, mas isso é um processo contínuo”, afirma o coordenador da única escola federal de formação de profissionais para a área. Todos os anos, cerca de 95 alunos participam de um curso de três anos e meio. Além disso, há também os profissionais que procuram a instituição para reciclarem seus conhecimentos.
Oliveira, que inicialmente queria ser mágico, descobriu no circo um instrumento pedagógico. “O circo transforma as pessoas. Me transformou. É um local onde aprendemos sobre respeito e alegria”, completa Zezo, que também é ator de rua e dançarino.
Um dos ex-alunos da Escola Nacional é o ator Luiz Carlos Vasconcelos, que ficou conhecido por interpretar o médico Drauzio Varella no filme Carandiru. Além do trabalho no teatro, na TV e no cinema, Vasconcelos também percorre o Brasil como o palhaço Xuxu, personagem com que há três décadas arranca risos de crianças e adultos.
“Ali tive grande vivência com meu palhaço, que já existia. É uma memória muito boa que tenho desses quase dois na escola. Ali também fiz amizades fundamentais, e com esses amigos criamos, em 1986, a Intrépida Trupe. A Escola Nacional de Circo tem importância fundamental na formação de artistas não só de circo, mas também de teatro".
Várias outras escolas e iniciativas espalhadas pelo país têm resgatado a tradição popular circense, além de desempenhar papel social na profissionalização de adolescentes e jovens, muitas vezes carentes.
Em São Paulo, o Projeto Circo na Escola, do grupo de pesquisa da faculdade de Educação Física da Universidade de Campinas (Unicamp), faz um trabalho voluntário dentro das escolas para crianças até seis anos, com espetáculos, oficinas, vivências e apresentações circenses. Em média, seis alunos da faculdade, visitam cerca de 10 escolas semestrais. O coordenador do projeto, professor Marcos Bortoleto, que também é acrobata e malabarista, explicou que a ideia é promover a educação estética circense, mas, sobretudo, os valores circenses para a vida em sociedade.
“Sempre deixamos material didático sobre o tema para que o ensino dessas atividades prossiga. Muitas escolas têm escolhido o circo como projeto pedagógico. Isso é que é legal, que o circo seja um saber que qualquer disciplina possa utilizar. Nossa preocupação é que eles sejam educados sobre questões humanas e uma série de valores cívicos e morais que são intrínsecos ao circo que serve o desenvolvimento pessoal e social”.
Edição: Rivadavia Severo
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