Estudantes brasileiros de medicina na Bolívia se queixam de preconceito

21/01/2010 - 5h11

Renata Giraldi
Enviada Especial
La Paz (Bolívia) - O sonho de estudar medicina, sem enfrentar ovestibular e com mensalidades acessíveis, é realidade para cerca 6 miluniversitários brasileiros que vivem na Bolívia. Mas a concretização do sonho custa queixas de preconceito, exigências de examesanti-HIV e cobranças excessivas de taxas e burocracia. Para osestudantes, há discriminação contra eles por parte das autoridades e dapopulação bolivianas.As reclamações dos estudantes foramrelatadas pelos jovens à Embaixada do Brasil em La Paz (capitaladministrativa do país) e a um grupo de deputados federais. No fim de2008, quatro parlamentares – Marcondes Gadelha (PSB-SE), Cláudio Cajado(DEM-BA), Décio Lima (PT-SC) e Raul Jungmann (PPS-PE) – estiveram naBolívia para verificar as relações entre o país vizinho e o Brasil,além da situação dos brasileiros.De acordo com as autoridades,as reclamações foram transmitidas ao governo boliviano que prometeutomar providências. A queixa considerada mais grave era a exigência de que as estudantes – apenas as mulheres – fizessem a cada seismeses exames para verificar se tinham o vírus da aids. A exigência erafeita pelas autoridades sanitárias como meio preventivo e obrigatóriopara a renovação do visto.Representantes do governo boliviano afirmaram que a presença dos jovens brasileirosafetou significativamente a cultura das cidades onde se fixam –principalmente Cochabamba e Santa Cruz de La Sierra. Para os bolivianos, os brasileiros promovemmais festas do que o habitual e têm um comportamento boêmio.Tambémexistiriam queixas dos moradores das duas cidades sobre as alteraçõeseconômicas estimuladas pela presença dos brasileiros. Isso ocorreriaporque o poder aquisitivo dos jovens que chegam à Bolívia, em geral, émais elevado do que o do boliviano médio. Para analistas sociais, asrestrições aos brasileiros não podem ser vistas como xenofobia, masapenas resistências ao novo e diferente.O resultado daanimosidade, segundo os estudantes, ocorre por meio da cobrançaexcessiva de taxas e documentos por parte dos bolivianos. De acordo comos universitários, há situações em que o valor de um determinadoserviço é cobrado em dobro porque o cliente é brasileiro. Todos essesdetalhes foram transmitidos às autoridades brasileiras que os repassaram ao governo da Bolívia.Os primeiros estudantesbrasileiros desembarcaram na Bolívia na década de 80. Elesforam atraídos pela oferta de cursos de medicina a um custo baixo e sema exigência de vestibular. Para ingressar, basta haver vaga e que oaluno prove ter condições de pagar o curso. Na Bolívia, as universidades privadas são avaliadas como de nível superior às públicas.O curso de medicina na Bolívia dura de seis a sete anos. O ingresso ocorre em janeiro e julho.Em geral, os preços das mensalidades variam de US$ 95 a US$ 250. Sãonove as universidades mais procuradas por brasileiros: Católica,Udabol, Ucebol, Unifranz e Uno, em Santa Cruz de La Sierra. Em La Paz, amais procurada é a NSLP e em Cochabamba são a UPAL, Unitec e Univalle.Para exercer a medicina no Brasil, o estudante que concluir o curso naBolívia deve submeter seu diploma à revalidação em territóriobrasileiro – ou regularização. As exigências vão desde o detalhamentoda grade curricular até a apresentação de documentos pessoais e verificações de conhecimento específico.