Rivadávia Severo
Repórter da Agência Brasil
Porto Príncipe (Haiti) - A falta de segurança para a distribuição de ajuda humanitária no Haiti é um dos maiores problemas enfrentados pelos socorristas. Hoje (21), 70 fuzileiros navais brasileiros fizeram uma ação para distribuir 3 mil litros de água e 3 mil toneladas de alimentos para 320 famílias, no bairro da Cité Militairé, em Porto Príncipe, a capital do país. O acampamento é um dos 300 que estão espalhados pela cidade à espera da ajuda humanitária. Mantimentos não faltam, segundo o capitão de Fragata, Júlio César Franco, que comandou a ação. “Estamos fazendo esta distribuição pontual. Um trabalho de formiguinha, todos os dias, em comunidades diferentes.”Para driblar a falta de segurança e fazer com que os alimentos cheguem aos 370 mil desabrigados da cidade a distribuição brasileira é feita à noite ou de madrugada. “A prioridade é a segurança. O nosso papel é manter os militares e a população seguros e prestar a ajuda humanitária”, explica Franco. Mesmo assim, segundo a Marinha do Brasil, as ações brasileiras distribuíram 20 toneladas de alimentos e 20 mil litros de água para os desabrigados, desde o terremoto do dia 12.A ação humanitária durou 20 minutos para distribuir 320 kits contendo 6 garrafas de 2 litros de água e uma sacola de supermercado com 2 quilos de leite em pó, 1 kg de açúcar, 2 latas de fiambres (presunto enlatado), 2 latas de sardinhas e 8 pacotes de biscoitos. A água foi uma doação da República Dominicana e os alimentos, do governo brasileiro.O comboio com três caminhões e um par de jeep partiu de madrugada para o bairro. Na chegada, os moradores correram para organizar a fila para receber a ajuda. Centenas de pessoas contornavam um muro que guardava uma quadra de esportes, em frente ao acampamento.No acampamento, os barracos improvisados são sustentados por paus e cobertos por panos e lençóis. As condições de higiene são paupérrimas. Esgoto a céu aberto, montanhas de lixo e pequenos focos de incêndio compõem o ambiente do campo.Os militares colocaram cones para sinalizar o lugar da fila. Um líder comunitário pedia calma por um megafone, enquanto os alimentos eram desembarcados dos caminhões. Um garoto de dez anos, disse à Agência Brasil que estava fora da fila, porque seus parentes iam pegar os alimentos. “Meu nome é Carlos”, responde. “Sobrenome não sei”. Ele faz parte de 90% dos haitianos que não têm documentos, segundo dados do Itamaraty. A água e a comida terminaram antes do fim da fila. Centenas de refugiados ficaram à espera da próxima ação de ajuda humanitária. Mas não houve tumulto. Ao lado do campo de refugiados, a sede do Institution Mixte Le Bon Samaritain de Varreux continua em pé. O seu lema L'education une priorité pour l'avenir (Educação: uma prioridade para o futuro) parece uma frase distante da realidade dos refugiados.