Mais de 10 milhões de empreendimentos precisam de microcrédito no Brasil

11/01/2010 - 15h16

Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Ademanda por microcrédito no Brasil envolve entre 10 milhões e 12milhões de empreendimentos. Destes, a absoluta maioria encontra-se emsituação informal e sem acesso a bancos. A avaliação, feita tendo porbase dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), édo secretário nacional de Economia Solidária, Paul Singer. “Estaé uma situação lamentável, que decorre do desconhecimento que boa parteda população e das instituições financeiras tem sobre o quanto umempréstimo de R$ 100 pode significar em termos de mudança da situaçãoeconômica de milhões de empreendimentos familiares”, diz oeconomista. Singer afirma que nenhum banco comercial empresta dinheiro para quem não ofereça garantias. “E essas pessoas [que necessitam de crédito] não costumam ter terrasnem rebanhos”. De acordo com ele, a maior fonte de microcrédito da AméricaLatina é o Banco do Nordeste, que atende cerca de 500 milempreendimentos. "Isso é ínfimo, se comparado à enorme demanda quetemos no país”, disse Singer à Agência Brasil. “Nenhuma outra entidadesequer chega perto disso.”Para ele, esse tipo deempréstimo de fato chega aos pobres “e faz uma diferença enorme paraeles”. “Tanto é que, aos poucos, estão inventando umaindústria do microcrédito. Houve o caso de instituição mexicana demicrocrédito que virou banco, depois de ser comprada por uma grandeinstituição financeira. Isso mostra que em certas circunstâncias omicrocrédito pode ser lucrativo”, acrescenta.Além disso, ressalta Singer, ocrédito para pobres é visto como lucrativo por esse público acabar pagandojuros mais altos, em função da pequena quantidade de crédito quesolicita. Segundo o secretário, o giro de capital deles costuma ser muito rápido nessassituações, principalmente para os que lidam com comércio. “Elesdobram o capital com grande velocidade e têm índice de inadimplência praticamente zero”, diz Singer, que associa a baixainadimplência do microcrédito ao fato de os pobres terem hábito de se ajudar mutuamente e medo de passar porcaloteiros. “Infelizmente, os bancos brasileiros de médio egrande porte não se interessam em lucrar 10% em cima de baixasquantias”, afirma o economista. “Mas tanto o Banco Mundial como a ONU [Organizaçãodas Nações Unidas] têm vendido a ideia de que o microcrédito pode sermuito lucrativo também para essas instituições.”Desde2006, com a criação do Programa Nacional de Microcrédito ProdutivoOrientado, desenvolvido pelo Ministério do Trabalho, algumas dezenasorganizações da sociedade civil com interesse público sem finslucrativos e sociedades de crédito para microprodutores – estas de fimlucrativo – passaram a atuar visando à promoção de microcrédito. “Masainda é um número muito pequeno de entidades dispostas a fornecer essesserviços”, avalia Singer. Ele acredita no surgimento de outras formas de microcrédito, “provavelmente na forma de bancoscomunitários e de fundos rotativos solidários, que são sociedade depessoas geralmente pobres, que vivem em áreas carentes e juntam apoupança de seus membros para fazer empréstimos visando a melhorar aqualidade de vida. “Esses fundos são compostos por pessoas pobres e sedestinam a gente pobre. Por isso se chamam de rotativos.” Para Singer, acrise financeira internacional não alterou “pelo menos aparentemente” aoferta de microcrédito no Brasil. “Se afetou, eu não  tive notícia. Mas,pela lógica, a demanda por ele deve ter aumentado”, concluiu.