Presidente da Câmara de SP é acusado de usar influência para manter prostíbulo aberto

23/06/2008 - 20h17

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O presidente da Câmara Municipal de São Paulo, o vereador Antonio Carlos Rodrigues (PR), defendeu-se hoje (23), por meio de nota à imprensa, da acusação de ter utilizado sua influência política para manter em funcionamento a casa de prostituição W.E, que é citada na Operação Santa Tereza, da Polícia Federal, como meio para lavagem do dinheiro obtido com o suposto esquema de fraudes no Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES).A suspeita sobre o presidente da Câmara Municipal foi citada hoje em matéria do jornal O Estado de S. Paulo. De acordo com o diário, a casa de prostituição W.E. e o flat (que funcionava em anexo à casa) estariam em situação irregular e sem alvará de funcionamento e deveriam ter sido fechados pela prefeitura municipal em uma blitz que teria sido realizada no dia 13 de março.A negociação com o presidente da Câmara, segundo a matéria do jornal, teria sido intermediada pelo coronel da reserva da PM Wilson de Barros Consani Junior, um dos investigados pela Polícia Federal na Operação Santa Tereza. Consani Junior, segundo a PF, é suspeito de prestar serviços à W.E., “cuidando” para que a casa de prostituição não fosse fechada.Interceptações telefônicas feitas pela PF indicam que Consani Junior também teria sido o responsável por avisar antecipadamente o deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, sobre a deflagração da operação. Na nota, Rodrigues confirma conhecer Consani Junior “por ter trabalhado com ele no serviço público” e diz que o coronel realmente o procurou para tratar “sobre uma casa de prostituição”. “Quando tomei conhecimento que a solicitação do coronel estava relacionada a uma casa de prostituição, determinei aos meus assessores que não adotassem nenhuma medida para o local continuar aberto”, diz o vereador, acrescentando que não é de sua competência “determinar que um estabelecimento comercial qualquer seja aberto ou fechado” e que isso seria atribuição do Executivo. Rodrigues também se colocou à disposição da Justiça para prestar os esclarecimentos necessários.O vereador assumiu o seu primeiro mandato na Câmara em janeiro de 2001, informa a sua página pessoal na internet (www.antoniocarlosrodrigues.com.br). Em 2006, ele foi membro da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apurou procedimentos de licenciamento para locais de reunião com lotação superior a cem pessoas destinados a atividades comerciais, de entretenimento e lazer. Em 2007, assumiu a presidência da Câmara.O vereador Gilberto Natalini, da bancada do PSDB na Câmara, disse que teve conhecimento sobre as denúncias contra Rodrigues e que elas “parecem sérias”, mas que não vai basear sua opinião apenas em matérias de jornal. Amanhã (24), a bancada do partido deve se reunir por volta do meio-dia para anunciar a sua posição ou medidas que pretende tomar a respeito das denúncias.Segundo o advogado Anderson Real, que defende os réus da Operação Santa Tereza Washington Napolitano e Edson Napolitano - apontados pela Polícia Federal como sócios da casa de prostituição -, a W.E. (que leva as inicias de seus clientes no nome) seria um bar e restaurante, e não um prostíbulo. De acordo com ele, a polícia civil fez uma investigação na W.E. sobre o crime de prostituição e “nada foi constatado”. À Agência Brasil, Real afirmou que a W.E. tinha alvará de funcionamento e que desconhece alguma irregularidade no local.Real disse que os irmãos Napolitano não tinham contato com Rodrigues, mas confirmou que seus clientes conheciam o coronel Consani, “que trabalhava para o bar e restaurante W.E. como se fosse um despachante, realizando serviços com relação a alvará e abertura da casa, mas tudo dentro da legalidade, sem pagamento de propina”.“Em momento algum, houve qualquer tipo de pagamento, qualquer tipo de propina ou meio ilícito para que a casa funcionasse”, defendeu o advogado. Real criticou o fato de as informações veiculadas nos jornais não constarem nos autos e do trabalho da Polícia Federal.“A primeira ressalva que a gente tem que fazer é que a Polícia Federal não é competente para investigar o que está sendo apurado. A competência é da polícia estadual”, disse ele.A Agência Brasil tentou contato hoje com a Secretaria de Habitação e com a prefeitura para obter a confirmação da blitz e dos motivos pelos quais a W.E. não teria sido fechada, mas até o momento não obteve resposta.