Delegado acredita que chacina na Baixada Fluminense foi comandada por policial militar

23/06/2008 - 19h54

Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Na avaliação do delegado Alexandre Gusman, da delegacia de Campos Elíseos, na Baixada Fluminense, a chacina ocorrida no final da noite de sábado (21), em Duque de Caxias (RJ), foi comandada provavelmente por um policial militar que integrava a mesma quadrilha de extermínio da qual fazia parte o sargento da Polícia Militar Adilson Soares dos Santos – um das sete pessoas executadas durante a ação dos bandidos.Alexandre Gusman ouve, neste momento, Marcus Aurélio Pinto, uma das sete pessoas feridas e que estavam no local no momento da chacina. A execução aconteceu em um bar onde o sargento estava reunido com outras quatro pessoas – três das quais foram assassinadas ainda dentro do estabelecimento. As outras quatro pessoas mortas foram atingidas na rua, onde também se encontravam as sete que escaparam com ferimentos diversos.A polícia trabalha com a possibilidade de que uma cisão dentro da quadrilha tenha sido o motivo dos crimes.“A gente está seguindo uma linha de investigação que indica a existência de um racha, uma dissidência, entre duas facções de um grupo de extermínio que agia na região e que acabou gerando essas mortes. São duas facções brigando pela hegemonia desse grupo de extermínio”, disse o delegado.Os policiais da 60ª delegacia já vinham investigando o sargento assassinado, desde o início do mês, quando a polícia e os bombeiros descobriram um cemitério clandestino utilizado pela quadrilha para esconder os corpos de suas vítimas.Para saber o grau de envolvimento das pessoas que estavam no bar com o grupo de extermínio o delegado também ouve os dois empregados que trabalhavam no local no momento da ação dos bandidos. Segundo informações da polícia, os bandidos chegaram ao bar encapuzados e fortemente armados. Eles perguntaram pelo PM e depois abriram fogo contra todos os que estavam no estabelecimento.No ataque, também morreram Leonardo Batista Pinto, 26 anos; Alberto Santos Barreto, 22 anos; Anderson da Costa Melo, 26; e Tiago Batista, 21.Marcelo Santos Barreto, 37 anos, chegou a ser levado com vida para o Hospital de Saracuruna, em Duque de Caxias, mas não resistiu aos ferimentos e morreu pouco depois. Wanderson Vicente Machado, 34 anos, chegou a ser atendido, mas também não resistiu aos ferimentos e morreu no início da tarde de ontem (22).Os crimes ocorreram pouco mais de três anos depois de uma outra chacina que abalou a cidade. Em 31 de março de 2005, 28 pessoas foram executadas por um grupo de extermínio formado por policiais militares em ataques nos bairros de Nova Iguaçu e Queimados. Essa foi a maior chacina já registrada no município do Rio de Janeiro.Até o momento, dois policiais militares foram julgados e condenados: o soldado Carlos Jorge de Carvalho e o cabo José Augusto Moreira Felipe, condenados a 540 anos de prisão pelos três crimes que foram acusados (assassinato, tentativa de homicídio e formação de quadrilha). A Justiça absolveu o terceiro acusado de participar da chacina: o também soldado da Polícia Militar Fabiano Gonçalves Lopes, pelos crimes de tentativa de homicídio e das 28 mortes ocorridas em março de 2005. Lopes foi condenado apenas pelo crime de formação de quadrilha e terá de cumprir pena de sete anos de prisão.A Justiça do Rio ainda deve julgar mais dois acusados pelos três crimes de Nova Iguaçu e Queimados: o cabo Marcos Siqueira Costa e o soldado Júlio César Amaral de Paula. Outros dois policiais foram processados apenas pelo crime de formação de quadrilha: os cabos Gilmar Simão, já morto, e Ivonei de Souza.