Da Agência Brasil
Brasília - O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), disse hoje (13) estar confiante na concretização da aliança entre PSDB e PT para as eleições municipais Belo Horizonte. Em entrevista ao programa Repórter Brasil, da TV Brasil, Aécio afirmou que o acordo entre os dois partidos para apoiar o nome de Márcio Lacerda (PSB) para a prefeitura da capital mineira não interfere nas eleições de 2010, mas pode representar “um novo momento político” para o Brasil, em que a oposição e o governo abandonem o radicalismo e passem a agir a favor do país.Aécio confirmou ter tratado do assunto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em encontro no Palácio do Planalto na tarde de hoje (13). Ele negou ainda que trabalhe para que o PSDB lance a candidatura do ex-governador Geraldo Alckmin para a prefeitura de São Paulo e afirmou que os tucanos sairão unidos nas próximas eleições presidenciais.Confira a íntegra da entrevistaTV Brasil – Conte o motivo desse encontro de hoje com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Faça também uma avaliação desse noticiário positivo em relação ao país que tem ocorrido nos últimos dias, o grau de investimento, o Brasil sendo louvado no exterior pelo seu momento econômico.Aécio Neves – Na verdade, meu encontro hoje com o presidente foi mais um encontro administrativo. Tenho tido, desde o primeiro mandato do presidente, uma relação extremamente positiva e construtiva com o presidente, mesmo pertencendo a um partido de oposição. Digo sempre que há um momento da luta política e das disputas, mas, terminada a disputa, é hora de convergirmos para fazermos o que precisamos fazer e atendermos o interesse da população que nos elegeu.A conversa com o presidente sempre é muito franca. Fizemos uma analise, inclusive da conjuntura econômica e definimos algumas questões especificas de Minas Gerais, como o início de processo de uma PPP [parceria público-privada] para que possamos ao longo dos próximos quatro anos concluir o metrô de Belo Horizonte. Será certamente o maior dos investimentos federais em Minas Gerais, mas com uma nova modelagem que inclui a participação do setor privado.Em relação à questão econômica, concordo que o Brasil vive, ao longo dos últimos cinco ou seis anos, o melhor ambiente internacional das ultimas décadas, com um tripé que reúne, em um só momento, uma economia internacional em expansão com benefícios importantes para o Brasil, os indicadores macroeconômicos extremamente saudáveis até pela correção do governo federal em manter os pilares fundamentais da política econômica anterior somada a isso um presidente com alta popularidade e ampla base de apoio do Congresso.Lamento que não tenhamos utilizado isso de forma mais adequada para fazermos a reforma política, para termos avançado a reforma tributária e a própria reforma previdenciária, que são, na verdade, ainda os grandes gargalos para que o país possa crescer com velocidade ainda maior do que vem crescendo.TV Brasil – E que podem brecar de maneira perigosa esse atual momento? A inexistência dessas três reformas?Aécio – Acho que a falta de reformas inibe o crescimento. Participei ontem, a convite do pessoal do presidente, do lançamento da política industrial com medidas que considero extremamente positivas, mas o ideal para estimular o desenvolvimento do país seria uma reforma fiscal profunda, em que os gastos correntes diminuam.Temos tido, no Brasil, o crescimento dos gastos correntes acima do que cresce a própria economia. Acho que este momento de expansão econômica, de recordes permanentes de arrecadação, poderia ser utilizado para uma rearrumação, reorganização fiscal do Estado brasileiro.TV Brasil – O senhor é considerado o governador de oposição que tem melhor relacionamento com o presidente Lula. Mas isso é fruto só do jeito mineiro de fazer política ou há algo mais? Faço essa pergunta principalmente lembrando que há um acordo sendo negociado entre o PT e PSDB em Minas Gerais no qual o senhor é um dos patrocinadores.Aécio – A relação que tenho com o presidente vem de respeito pessoal mútuo. Fomos colegas no Congresso Nacional, e aproveitamos essa boa relação para transformá-la em parcerias. Minas Gerais vem sendo o estado que mais emprega na indústria, que mais cresce nas exportações, que maior volume de investimentos vem recebendo. Isso se dá também, reconheço, pelo ambiente positivo por que passa o país.Seria, a meu ver, um gravíssimo equívoco se não aproveitássemos essa boa relação para construirmos parcerias em favor de Minas Gerais. Em relação às eleições municipais, é um grande equívoco as pessoas avaliarem que possa haver conexão direta com o resultado de uma eleição municipal, não importa onde, com as eleições de 2010. O que estamos buscando construir em Belo Horizonte na verdade é algo que a população de Belo Horizonte quer e acredito nesse amplo entendimento porque é algo que já existe.Ao longo dos últimos seis anos, as parcerias em Belo Horizonte têm sido muito saudáveis para a cidade, na área da saúde, na segurança publica, na infra-estrutura. O que queremos? É dar continuidade a essa parceria entre o município e o estado. O próprio presidente concorda que essa parceria é natural e que, por isso mesmo, deveria ser efetivada.TV Brasil – O senhor é apontado como grande apoiador da candidatura de Geraldo Alckmin para a prefeitura de São Paulo, mas o governador José Serra aposta no atual prefeito, Gilberto Kassab. Como o senhor vê esse racha dos tucanos em São Paulo? Isso ameaça a sua candidatura a presidência em 2010?Aécio – Retorno àquilo que disse anteriormente. A História do Brasil mostra, de forma muito clara, que não existe essa conexão tão direta entre eleições municipais e a eleição nacional. Eu, até porque conduzo com meus aliados mineiros a questão mineira, tenho muito respeito pela condução que os paulistas dão às suas questões, em especial às da capital. Torço para que o PSDB saia fortalecido desse processo.O companheiro Geraldo Alckmin é um homem em condições de disputar e de ocupar qualquer cargo publico neste país. Foi nosso candidato, inclusive, à presidência da República. Mas não há intromissão minha, até por que ela seria inócua. Não tenho votos em São Paulo a oferecer a quem quer que seja. Tenho, sim, um enorme respeito pelo ex-governador Geraldo Alckmin e uma grande confiança de que, ao final deste processo, vamos ter o PSDB unido, não importa a quem isso favoreça.Para não fugir do âmago da pergunta, o PSDB estará unido em 2010. Podemos ter posições diversas sobre essa ou aquela questão, mas temos um grande compromisso, uma grande responsabilidade para com o país. A candidatura do PSDB será aquela que tiver naturalidade e condições de conduzir um projeto nacional. Não faltam candidatos. Acho que o que falta hoje ao Brasil é um projeto claro de desenvolvimento, de reformas que possibilitaria, repito, aproveitarmos melhor esse extraordinário momento por que passa a economia internacional.TV Brasil – Governador, as quatro últimas eleições presidenciais saíram de São Paulo. A próxima, vai sair também?Aécio – Se saiu, foi por mérito dos paulistas, e São Paulo tem sido e continuará sendo fundamental ao Brasil. Se você perguntar ao mineiro, que assiste a distância a este processo, eu diria que um certo reequilíbrio federativo é importante. Acho que Minas terá um papel importante nesse reequilíbrio. Pode ter candidato? Pode, se as circunstâncias levarem a isso.Minas também pode participar de um amplo projeto. O estado certamente participará com peso e com influência que acredito ser decisiva, mas ninguém vai ser ou deixar de ser candidato por ser desse ou daquele estado. O candidato do nosso campo político, repito, será aquele que construir uma nova convergência no país.Vejo, com muita preocupação, a possibilidade de repetirmos essa polarização que não tem feito bem à política nacional nos últimos 16 anos onde aquele que ganha as eleições encontra uma oposição extremamente radicalizada, sem as condições adequadas para construir as reformas e os avanços que considero natural. Em Minas, temos tido sempre a capacidade de dialogar. Não vejo meu adversário como inimigo e não acho que ele só tenha defeitos por estar no campo oposto ao meu. Ao contrário, tenho buscado construir, com lideranças de campos variados, parcerias que possam inspirar o Brasil.Sou, por natureza, um construtor de pontes. Assim foi minha caminhada no Congresso Nacional. Assim, cheguei à presidência da Câmara. Assim, governo Minas Gerais e é dessa forma que pretendo dar uma contribuição ao Brasil. Hoje mesmo com o presidente Lula, conversamos sobre isso e vejo uma aproximação cada vez maior de idéias, e até de pensamentos em relação ao que precisa ocorrer no Brasil. O que pensa uma parcela do PT é também o que pensa uma parcela do PSDB.TV Brasil – O acordo de Minas entre o PT e PSDB é uma realidade hoje ou ele ainda corre risco? Sai ou não sai?Aécio – Acredito que sai porque ele é natural e o vigor necessário, que é a aprovação de quase 90% da população de Belo Horizonte. Cabe a mim respeitar o tempo de cada um dos partidos que devem participar desse processo especial do PT, mas acreditando que a generosidade vai prevalecer sobre a necessidade de dar a vitória a esse ou aquele partido político sobre qualquer tipo de vaidade.TV Brasil – E sobre isso, especificamente, o que o presidente falou hoje?Aécio – Ele reiterou a mim, sem reservas, aquilo que já disse publicamente. Que, na sua visão, não há razão para vetar esse entendimento. Ele registrou, e acho adequado, que essa é uma questão a ser conduzida pelos partidos políticos e assim deverá ocorrer nas próximas semanas. Mas o meu sentimento, de coração aberto, é que esse acordo não só se viabilizará como nós teremos um extraordinário gestor à frente da prefeitura de Belo Horizonte. Quem sabe sinalizando para o Brasil que um novo momento político pode ocorrer.