Remédios para aids são moeda para comprar comida na África, denuncia ativista

01/12/2007 - 19h22

Marcia Wonghon
Repórter da Agência Brasil
Recife - Em uma das regiões que concentra o maior número de casos de aids no mundo, a África, a situação das pessoas infectadas pelo vírus se agrava com o comércio de remédios anti-retrovirais. No local, os próprios doentes vendem os remédios para comprar alimentos. A denúncia é feita pela representante da rede sul africana com serviços de aids, Mercy Machiya. Ela afirmou que o problema de acesso à comida é mais grave do que a falta de medicamentos.A especialista esteve no Brasil esta semana para participar do fórum deativistas de direitos humanos que reuniu, em Recife, representantesdo Brasil e de mais 15 países. Mercy, que veio da Namíbia, afirmou que os grupos mais vulneráveis à contaminação pelo HIV estão na faixa etária de até 35 anos. A representante explicou que,como existem muitas vítimas fatais da enfermidade na região do sul da África,milhares de crianças ficam órfãs e são educadas pelos avós, pessoas idosascom pouco entendimento sobre a doença.

“Outro problema é que meninos e meninas atingidospela epidemia tomam a medicação de estômago vazio e aí surgem complicaçõesorgânicas, em função dos efeitos colaterais dos fármacos", frisou.

Ainda de acordo com a ativista, o maisalto índice de infectados pelo vírus da aids no mundo está no país africano de Botswana, quepossui 38% da população atingida. Odiretor do programa de aids das NaçõesUnidas, Luiz Loures, reconheceu que a expansão do HIV na região sul africana épreocupante e exige medidas emergências para combater a epidemia. “A aids éfacilitada por dificuldades em falar sobre sexo na família e problemasestruturais como a fome. Isso reforça a necessidade de uma abordagem amplasobre o tema”, frisou.Loures observou que a doença atinge, com maior intensidade, a população mais pobre, marginalizada e comdificuldade de acesso a educação, bens e preservativos. “É nesse contexto que a aids  vem se expandindo cada vez mais. Sequeremos garantir que o tratamento seja sustentável temos que resolver de formaimediata todas as questões referentes à epidemia, inclusive o combate à fome”,concluiu.  Mais dedois terços (68%) de todas as pessoas infectadas pelo vírusHIV no mundo vivem na África Subsaariana, quereúne os países situados ao Sul do deserto do Saara.Essa região também concentra o maior percentual mundial de mortes causadas pelo vírus HIV: 76%.Atualmente, existem 22,5 milhões de pessoas vivendo com ovírus no local. Este ano, foram registrados 1,7 milhão de novos casos na região.