Segurança pública precisa de investimento em inteligência, diz socióloga

20/10/2007 - 17h40

Deborah Souza
Da Agência Brasil
Brasília - A falta de perspectiva da população do Entorno do Distrito Federal e o pouco investimento na área de inteligênciapolicial são fatores que contribuem para aumentar osíndices locais de criminalidade. A avaliação éda socióloga Lourdes Bandeira, uma das responsáveispela organização do livro A Segurança Públicano DF – Práticas Institucionais e Dilemas Culturais,coletânea de 12 artigos de pesquisadores da Universidade deBrasília (UnB) lançado no início do mês. De acordo com asocióloga, a presença da Força Nacional deSegurança no Entorno do DF irá coibir a violência,o que não vai garantir a resolução de antigosproblemas da população que habita o Entorno. Aprofessora concedeu uma entrevista à Agência Brasilpara falar sobre o livro e sobre a violência no DistritoFederal. Ela afirma que o tema é complexo e cobra umareestruturação das práticas de combate àcriminalidade por meio do investimento na área de inteligênciae capacitação policial. AgênciaBrasil: Qual a sua avaliação sobre a operaçãodesenvolvida no Entorno do Distrito Federal, para coibir acriminalidade, e que conta com a atuação da ForçaNacional de Segurança? Quais são as suasexpectativas?Lourdes Bandeira: A expectativa éque a instalação dessa força coíba aviolência, mas, na verdade, essa é uma questãoimediata, porque a questão mais grave é anterior. Éuma questão estrutural porque o aumento dos homicídiosno DF e no Entorno tem a ver, sobretudo, com uma forma de ocupaçãoextremamente desordenada do espaço. Essa ocupaçãoestá ligada à condição de infra-estruturae ao desordenamento dessa população, que há duasdécadas foi atraída para o DF com a promessa de queteria condições de moradia e de trabalho, mas que naverdade não teve nada.Houve uma políticade natureza populista pelos governos locais do DF, que atraiu a atualpopulação do Entorno. Quando essa populaçãochega é obrigada a viver nos assentamentos e não restanenhuma possibilidade de engajamento social. Não éincluída no mercado de trabalho, não tem qualificaçãonem a menor condição de acesso à escola. Paraessa população resta uma possibilidade: acriminalidade. E é isso o que tem acontecido. ABr: No livrovocês apontam um paradoxo vivido no Distrito Federal que tem oquarto maior investimento do país na área de segurançae, mesmo assim, ainda enfrenta problemas com relação aeficácia das ações de combate àviolência. Como você avalia essa questão?Bandeira:Em Brasília, há muito investimento para a áreade segurança pública. No entanto, a questão éa seguinte: como e onde são investidos esses recursos? Uma dasquestões centrais aponta para o destino desses recursos quenão são dirigidos, necessariamente, àqualificação, formação, acompanhamento econtrole das atividades policiais. Os policiais sãoformados pela academia, que não é um curso muitoexpressivo, levando-se em consideração que háuma criminalidade que se desenvolve, que tem um progresso muito maiordo que a força policial, e também os novos tipos decrime, os novos tipos de delitos. A polícia, em geral, aindanão tem uma inteligência extremamente desenvolvida parase antecipar.ABr: Afinal,onde falta investir?Bandeira: Esseinvestimento na inteligência, na capacitação enos recursos mais elaborados, não é feito. Os recursossão destinados a equipamentos e materiais, que sãoimportantes, mas que não são os únicos. Sóter mais viatura e mais armas não vai resolver, porque apolícia, evidentemente, tem uma dimensão repressiva,mas essa repressão tem que estar agregada a uma sériede outros elementos.Se não houveruma ação mais inteligente, uma gestão dinâmicamais moderna, certamente, a criminalidade vai continuar aumentando e,consequentemente, o volume de recursos cada vez mais abundante nãovai resolver o problema.