Mais de 1 milhão de pessoas precisam de próteses ou órteses no Brasil

20/10/2007 - 23h24

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Em 2006, 250 mil pessoas receberam prótesesou órteses (de uso externo), de acordo com o Ministério da Saúde.Entretanto, dados do próprio ministério revelam que, atualmente,mais de 1 milhão de pessoas no Brasil ainda nãoconseguiram ter acesso a esses equipamentos. Próteses sãoaparelhos que substituem ossos ou cartilagens e órteses,equipamentos externos que ajudam o paciente a superar algumadificuldade ou deficiência (palmilhas, cadeiras de rodas eaparelhos auditivos, por exemplo). O fornecimento de prótesese órteses pela rede pública de saúde estáprevisto no Decreto 3.298 de 1999.A expectativa do ministério é de que a atual demanda aumente nos próximos três anos. No período,o Sistema Único de Saúde (SUS) deve atender mais de 1milhão de pacientes.Muitos dos pacientes com artrite (reumatismo)precisam de próteses. A doença desgasta e inflama asarticulações tirando a mobilidade do corpo. Em algunscasos, para ter de volta os movimentos é necessárioimplantar aparelhos em vários membros, como é o caso daprofessora aposentada Maria Francisca Vale. Ela usa próteses internas nos ombros, no quadril eestá prestes a colocar mais duas nos joelhos. Paciente doSistema Único de Saúde no Rio Grande do Norte, elaconta com os equipamentos, implantados por meio de cirurgia, há11 anos. Alguns, como as próteses dos ombros precisam sertrocadas, pois, só deveriam durar sete anos. “Mas a dor e oprocesso da cirurgia são tão complicados e dolorososque tenho medo de voltar ao médico”, disse Maria Franciscaque também é diabética.Hoje, ela mal consegue andar e passa a maior partedo dia sentada. Para tomar banho, fazer comida e cuidar de trêsfilhos conta com a ajuda de órteses como a muleta, a cadeirasde rodas e a de assento, com as quais gastou mais de R$ 500 nosúltimos cinco anos.Além de pacientes com artrite, tambémprecisam de próteses – neste caso de uso externo – ouórteses sob medida pessoas com braços ou pernasamputadas em virtude de doenças como diabetes, tabagismo ou dealgum tipo de acidente. Esse também é o caso daspessoas que nasceram com deficiência e têm o direito dereceber cadeiras de rodas, calçados ortopédicos eaparelhos auditivos. Mesmo assegurado em lei, o acesso a essesaparelhos não é tão simples. O presidente doGrupo de Pacientes Artríticos de Goiás, Fábiodos Reis Fonseca, conta que a maioria das pessoas que procura aassociação está na fila há muito tempo.“A espera pode chegar há três anos aqui.” Do Amazonas, a presidente do Grupo de PacientesArtríticos, Maria Rita Duarte, diz que lá a fila éde um ano e seis meses.A demora pode estar relacionada àdeficiência dos serviços de reabilitaçãonos estados, justifica a coordenadora da área de Saúdeda Pessoa com Deficiência do Ministério da Saúde,Érika Piasaneschi. “O problema pode ser a estruturaçãodo serviço. O dinheiro é repassado, mas são osestados que definem suas prioridades”, disse. Ela afirma também que entre os motivos dademanda de 1 milhão de pacientes não atendidos estáo desconhecimento da população sobre os serviçosde reabilitação e o fornecimento dos equipamentos. Além da dificuldade para se conseguir umaprótese ou órtese no Brasil, o presidente da AssociaçãoBrasileira de Ortopedia Técnica (Abotec), o médico HenriqueGrego Maia, levanta outro problema: sem as adaptaçõesnecessárias e sem dinheiro para pagar pela manutençãodos aparelhos, que podem custar até R$ 4 mil, 60% dospacientes abandonam as próteses de uso externo, principalmentea de braços e pernas.