Governo deveria ter forçado bancos a reduzir taxas, acredita economista

15/03/2007 - 16h24

Daniel Merli e Roberta Lopes
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - A decisão do governo federal de reduzir a Taxa Referencial (TR) vai desestimular as pessoas a investirem na poupança, que é reajustada em 6% ao ano mais TR. Com isso, quem deve sair favorecido são os bancos, que mantêm os fundos de renda fixa como uma boa opção de investimento. A medida reverte a tendência dos últimos meses, que tornava o investimento em poupança tão atrativo quanto o fundo de renda fixa.Quem investe em poupança tem um rendimento de 6% ao ano mais a TR, enquanto os fundos de renda fixa são corrigidos pela Taxa do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic), que atualmente está em 12,75% ao ano. Com a nova decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN), se a Selic cair a menos de 11%, a TR também cai. "Em outras palavras, hoje o fundo de renda fixa tem quase empatado com a poupança", aponta o economista Miguel José Ribeiro de Oliveira. "Com a queda da Selic, iria chegar num determinado momento no segundo semestre que os fundos estariam perdendo da poupança", afirma o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). "O governo fez isso para segurar esses grandes investidores", afirma.Em vez de reduzir o rendimento da poupança, Miguel Oliveira considera que o governo deveria ter forçado os bancos a reduzirem as taxas de administração cobradas para gerir os fundos. Se diminuíssem sua margem de lucro, os bancos poderiam manter o fundo mais rentável que a poupança, mesmo com queda na Selic. E o governo não teria de interferir na aplicação de 30 milhões de poupadores.O único benefício, segundo ele, é para quem fez financiamento para compra da casa própria pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH). O economista faz uma conta para demonstrar. Alguém que fez um empréstimo de R$ 100 mil, paga hoje uma prestação de R$ 1.504,93. Caso a TR seja mantida, no final de 12 meses, o mutuário teria uma prestação de R$ 1.535. Com o redutor, essa prestação cairia para R$ 1.527.Mas o economista vê um problema a longo prazo. "Quem tem dinheiro aplicado na poupança estará recebendo menos e, naturalmente, isso pode trazer um problema adicional", afirmou Oliveira. O problema a que se refere o economista é que uma diminuição em aplicações na poupança poderia trazer uma redução nos recursos para habitação, já que os bancos são obrigados a aplicar 65% do que arrecadam com a poupança em financiamentos para habitação. "Com menos recursos na poupança, teríamos menos recursos para financiar a habitação", disse.O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu a redução da TR, afirmando que ela precisava acompanhar as outras taxas, como a Selic. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, ressalta que a perda dos trabalhadores com a poupança e o FGTS deve ser compensada pelo reajuste menor nos contratos.Já a associação de proteção ao consumidor Pro Teste e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) acham que esse “único ponto positivo” não compensa a perda que os trabalhadores terão. A CUT afirma que a medida beneficia os bancos, já que torna a poupança menos rentável para aplicação.