Entrevista 3 - TV pública hoje é financiada pelos estados, diz Cunha Lima

24/11/2006 - 20h07

Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A terceira parte da entrevista com o presidente da AssociaçãoBrasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (Abepec),Jorge Cunha Lima, fala sobre a situação atual do debate sobre atelevisão pública e como o governo federal ainda não "acordou" para aquestão do financiamento. "A TV pública hoje é financiada pelosestados", disse. Além disso, Cunha Lima destaca que a TV pública não écomercial, nem estatal. "Precisa ter independência do poder e domercado". Leia abaixo o último trecho da entrevista:Agência Brasil – Você falou também da necessidade do poder públicoentender a importância das TVs. Como você vê a atuação do Ministériodas Comunicações?Jorge Lima – Só agora o governo começou a ter uma percepção de que a TVpública existe. Não acordou ainda para o financiamento. A TV públicahoje é financiada pelos estados. Tirando São Paulo, as contribuiçõessão muito modestas. Não podem produzir mais que 20% da sua programaçãolocal, tanto é que retransmitem a programação da TV Cultura e da TVE doRio de Janeiro. O governo tem que começar a entender que a criançafica, em média, quatro horas em frente à TV. Toda educação que recebiamem casa, na mesa de jantar, a formação cívica que recebiam na velhaescola republicana não recebem mais. A televisão virou não apenas ababa, mas o professor, a mãe, o pai. E diz o comportamento que devemter, o gosto, a sensibilidade e sexualidade. Essa modelo que morreu deanorexia foi penalizada pela televisão com a imagem da modeloesquelética. É preciso tomar cuidado com isso de não ter umaalternativa de qualidade, um senso crítico maior em relação àprogramação da televisão e um jornalismo onde não prevaleça oespetáculo da notícia sobre a compreensão do acontecimento. É umaeducação complementar para revelar valores da nossa identidade, comoartistas não consagrados. Toda a programação exibida nos programasinfantis é feita fora do país, não tem produto brasileiro. Só a TVRatimbum, TVE e TV Cultura fazem produção brasileira. ABr – E a sociedade? Entende essa importância? Conhece afunção da TV pública em uma democracia? Como a questão pode sertrabalhada?Jorge Lima – O público acha que a TV pública é uma TV governamental,confunde com TV estatal. Tem que ser distinta. O legislativo, a justiçae o poder executivo precisam revelar os seus conteúdos. Mas a TVpública não é comercial, nem estatal. Precisa ter independência dopoder e do mercado, sair da sua timidez e começar a explicar, dentro dasua programação, o que ela é. Fazemos muito pouca propaganda da nossaespecificidade e caráter. É importante que a própria TV pública tenhaorgulho da sua filosofia e de seus produtos.ABr – Qual a defasagem da legislação em relação à TV pública?Jorge Lima – É uma defasagem histórica. Não existe legislação para a TVpública. Nem existem projetos e estudos. É um caos absoluto. Todos osgovernos têm medo de assumir a responsabilidade de fazer uma lei decomunicação eletrônica de massa.ABr - Nesse  ponto, o governo tem sido omisso?Jorge Lima – Depois da lei de televisão a cabo, houve uma promessa doSerjão [ex-ministro das comunicações, Sergio Motta] de fazer a Lei deComunicação Eletrônica de Massa. Depois disso, não sei se por omissãoou medo, o Ministério nunca mais propôs nada. Já passaram dois governose nada.