Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Na segunda parte da entrevista, o presidente da AssociaçãoBrasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (Abepec),Jorge Cunha Lima, fala sobre as possibilidades de financiamento para asTVs públicas e das perspectivas do setor frente à digitalização. CunhaLima questiona o modelo de sustentação por tributação direta: “o Brasiljá está cansado de tributos”. Leia o segundo trecho da entrevista:Agência Brasil – O senhor diz que a TV sobrevive por “conta própria”. Qual o modelo de financiamento que seria ideal?Jorge Cunha Lima – Não podemos ainda fugir de um modelo em que oorçamento público ampare as TVs públicas. Esse financiamento pode sertanto através de dotações diretas no orçamento, quanto pelaconstituição de dois fundos que o governo estabeleça. Um é o fundo deatualização tecnológica para transição digital, que poderia ser umpercentual do dinheiro que eles dão para a TV comercial que não épequeno ou poderia ser orçamentário. O outro fundo seria para a criaçãode uma rede nacional de produção, para que todas as TVs pudessemproduzir programas de conteúdo com qualidade. O sistema inglês é ótimo,mas o Brasil já está cansado de tributos. Não é momento estratégicopara isso. A televisão pública deve ter direito, no momento que ogoverno não pode pagar a conta, de poder vender produtos e terpublicidade institucional.ABr – Então o senhor é a favor das peças publicitárias nas TVs públicas, incluindo as comunitárias?Jorge Lima – Desde que seja institucional, bastante policiada, em muitomenor quantidade que na TV comercial e desde que não haja naprogramação infantil. A criança não pode ser induzida, seduzida porqueo pobre não vai poder comprar. E o rico começa a ser um consumistainveterado com pouca idade. É uma questão ética para toda a TV, não sóa pública.ABr – A TV digital traz necessidades tecnológicas, tanto deequipamentos quanto de mão de obra. Isso poderá ser sanado com acriação de um fundo de investimento ou serão necessárias outrasprovidências para garantir a diversidade na futura TV?Jorge Lima – Precisa de três coisas. Recursos para reforço deequipamento e pessoal, um bom espaço, sem ficar no extremo dos númerosno ‘dial’ e uma multiprogramação. Precisamos ter três ou quatro tiposde televisão pública: educativa e informativa, infantil e cultural.