Paulo Montoia
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Pela primeira vez desde 1982, um trabalhador pode comprar a cesta básica gastando menos da metade do salário mínimo. Com isso, em abril, o salário mínimo teve seu melhor poder de compra para cesta básica, segundo cálculo feito pelo Departamento Intersindical de Estudos Sócio-econômicos (Dieese), em pesquisa mensal divulgada hoje (5).
O Dieese usa como referência o valor líquido recebido, de R$ 323,22. Desconta dos R$ 350 definidos por lei, o valor da contribuição para a Previdência Social e da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) pelo banco no qual recebe.
O Dieese informa não dispor de uma série completa de todos os anos com as 16 capitais, mas usa São Paulo como referência, por ter sempre a cesta mais cara ou uma das mais caras. "As demais capitais geralmente são mais baratas do que São Paulo", explica o coordenador da pesquisa, José Maurício Soares. A parcela comprometida indicada, na média do país, foi de 48,63% e, em São Paulo, de 56,60%. "É a menor taxa desde 1979 em São Paulo. Em 1982, ela foi 54,74%, que era a menor neste período de 1979 até agora".
O indicador do Dieese para esse mês não é real, pois a instituição faz o cálculo a partir do salário mínimo legal, em vigor. Em razão disso, a comparação é do valor em vigor em abril, de R$ 350, porém só recebido efetivamente em maio, comparado a valores de mercado efetivamente pagos em abril. Mas segundo o coordenador da pesquisa, o economista José Maurício Soares, esse indicador deve ser considerado pois "a pesquisa sempre foi feita desta forma".
Segundo o Dieese, também pela primeira vez nesse período caiu abaixo de 100 horas o tempo de trabalho necessário para comprar a cesta pelo seu valor médio no país, cálculo que é feito para o salário bruto para 220 horas. O indicador ficou em o equivalente a 98 horas e 48 minutos de trabalho Em abril, o trabalhador despenderia 98h48m. Em março, o valor médio da cesta demandava 110h55m e, em abril do ano passado, 132h21m. Em relação ao salário líquido, o indicador foi de 48,63% sobre o valor médio da cesta, contra 54,59% em março e 65,14% há um ano.
Das 16 capitais pesquisadas, em 7 o valor da cesta ficou abaixo de metade do valor líquido do mínimo, que é de R$ 161,61. "Praticamente em15 capitais em abril foi metade ou menos do salário bruto", diz o economista José Maurício Soares, coordenador da pesquisa . "O Rio de Janeiro é que está ali, um pouquinho acima da metade. A metade seria R$ 175,00. No Rio, dá R$ 175,64. Nas outras todas deu menos de R$ 175 que é a metade de R$ 350."
Para o mês de maio, quando todos os valores considerados serão fechados dentro do mês em curso, Soares acredita que esta boa relação poderá se manter. "Eu acho que o preço do tomate não tem como ser sustentado. O clima não está tão desfavorável, o tomate deve cair e a carne está caindo, por causa da febre aftosa, e deve continuar caindo, e a carne tem de baratear também porque concorre com o frango, que também está barato. O açúcar e a banana não têm um peso muito grande."