Serraglio cita ida de 31 deputados para o PTB como evidência de que o ''mensalão'' existiu

29/03/2006 - 21h25

Marcos Chagas e Ana Paula Marra
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - Como no caso do Partido Liberal (PL), o cruzamento de dados feito pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios evidencia, no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), correlação entre o fluxo de recursos do esquema do empresário Marcos Valério de Souza e eventos políticos ocorridos entre janeiro e setembro de 2003. É o que afirma o relator da comissão, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), em seu relatório final, apresentado hoje (29). "Nesse período ocorreu intensa troca partidária em direção ao PTB e importantes matérias foram votadas no Congresso, como a Reforma da Previdência e a Reforma Tributária", afirma Serraglio.

Segundo ele, as migrações de parlamentares para o PTB começam em janeiro de 2003, "no momento da instalação do atual governo, e estendem-se até setembro do mesmo ano". Em janeiro de 2003 foram 14 trocas de partido, mostra o cruzamento de dados. "Se computarmos as mudanças verificadas no primeiro semestre de 2003, esse número salta a 22. Em todo o período, foram 31 migrações para o Partido Trabalhista Brasileiro", diz o parlamentar no seu relatório final.

Osmar Serraglio afirma que, neste mesmo período, várias pessoas ligadas diretamente ao PTB sacaram ou intermediaram o saque de "vultosas quantias" do esquema de corrupção operado por Marcos Valério de Souza. O ex-presidente do PTB José Carlos Martinez, já falecido, sacou R$ 400 mil das contas de Valério; Einhart Jácome da Paz, ligado ao partido, recebeu o pagamento de R$ 300 mil; o deputado Romeu Queiroz (MG) sacou R$ 50 mil; Adilson Gomes da Silva, ligado ao PTB, sacou R$ 42.500; Jair dos Santos, motorista do ex-deputado José Carlos Martinez, sacou R$ 300 mil. Todos os saques somados chegam a R$ 1,092 milhão.

No relatório, Serraglio diz que a funcionária de Marcos Valério Simone Vasconcelos movimentou, no mesmo período, R$ 642 mil. Já Alexandre Vasconcelos Castro, considerado pela comissão como outro operador do esquema de Valério, movimentou nesse período cerca de R$ 770 mil. "Em todo o período diagramado foram sacados cerca de R$ 2.504.450,00 do 'Valerioduto'. Parte desse valor certamente foi carreada para o PTB, pelo vínculo existente entre os sacadores e o partido. Sobre a outra parte, a coincidência ou proximidade de datas constituem indício dessa destinação", afirma o relator.