PP apresentou três ''comportamentos'' ligados aos repasses de Valério, conclui relator

29/03/2006 - 21h40

Marcos Chagas e Ana Paula Marra
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - O relatório final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, apresentado hoje (29) pelo relator Osmar Serraglio (PMDB-PR), conclui que houve uma estreita relação entre repasses de recursos do esquema de corrupção operado pelo empresário Marcos Valério de Souza para partidos da base do governo como o PL, o PTB e o PP com votações de interesse do Executivo. O cruzamento de dados feitos com o Partido Progressista (PP), por exemplo, "vem corroborar a tese de que os recursos carreados ao 'Valerioduto' visavam à formação de uma espécie de fundo a ser colocado à disposição do governo para viabilizar seus interesses político-partidários", afirma Osmar Serraglio no texto.

O relator diz que, neste cruzamento, tais interesses foram explicitados por intermédio de três comportamentos bem diferenciados. Dois deles teriam começado em agosto de 2003 e se estendido até meados de fevereiro de 2004. No período, o relator destaca que ocorreram 11 migrações de parlamentares para o Partido Progressista (PP) e foram votadas, no Congresso, matérias de interesse do Executivo, como as reformas da Previdência e Tributária.

"Nítida foi a estratégia adotada pelo governo quando percebemos, nesse mesmo período, várias coincidências entre as datas de saque no 'Valerioduto' e as datas que ocorreram as migrações partidiárias", afirma o relator. Em 3 de fevereiro de 2004, 10 de fevereiro de 2004 e 11 de fevereiro de 2004, a funcionária de Marcos Valério Simone Vasconcelos sacou R$ 50 mil, R$ 100 mil e R$ 100 mil, respectivamente. O relator ressalta que Simone era responsável pelo repasse de recursos a assessores de parlamentares. "Nessas mesmas datas houve migrações partidárias para o Partido Progressista", afirma o relator.

No mesmo período, o assessor do deputado José Janene (PP-PR) João Cláudio Genu, que segundo o relatório centralizava as operações no PP, movimentou R$ 1 milhão. "Se computarmos ainda as somas movimentadas no período pelos operadores do publicitário Marcos Valério, veremos que a quantia sacada montou em cerca de R$ 5.325.000,00", destaca Serraglio.

O relator disse que o terceiro comportamento do repasse de recursos do esquema de Marcos Valério para o PP passou a ser observado a partir do final de abril e se estendeu até junho de 2004. "Nesse período, pudemos observar intenso fluxo de recursos para o Partido Progressista, via [corretora] Bônus Banval. Em aproximadamente 50 dias, a soma de R$ 6.644.450,00 foi destinada ao referido partido", diz o relatório.