Tribos do Maranhão conquistam direito a voto na 4ª Conferência Nacional da Saúde Indígena

29/03/2006 - 18h46

Janaína Rocha
Enviada especial

Rio Quente (GO) - Os Krikati, Gavião, Awa-guajá e Guajajara, povos indígenas do Maranhão que no mês passado bloquearam a estrada de ferro Carajás em protesto contra a Funasa (Fundação Nacional de Saúde), conseguiram garantir sua representatividade na 4ª Conferência Nacional da Saúde Indígena. Até ontem (28), a delegação escolhida pelos indígenas participou do encontro como convidada, sem direito a voto nas propostas a serem discutidas amanhã (30) em plenária.

Os delegados não tinham sido eleitos para o fórum nacional porque a etapa distrital da Conferência, segundo o líder guajajara José Arão Lopes, foi realizada sem respeitar as etapas preparatórias de nível local e sem a presena de indígenas que representassem as seis etnias do estado. "O protesto na estrada de ferro foi o ponto culminante de nossa revolta, insatisfação e desespero com a ausência de atendimento", contou. Os indígenas foram também representados pelo Ministério Público Federal, que entrou com uma ação civil pública para garantir a participação dos delegados na 4ª Conferência Nacional da Saúde Indígena.

Segundo o guajajara Raimundo Carlos da Silva, desde outubro aumentou o número de suicídios, somando sete casos até agora: "Todas as doenças nos atingem por causa desse abandono. Há um surto de coqueluche que matou sete crianças desde o começo do ano em Amarante [no Maranhão]. Casos de morte por HIV e até por pressão arterial também começam a ocorrer, além do alcoolismo, que é um problema mais comum".

José Arão Lopes contou também que os conselhos locais e distrital foram implantados em 2000, mas nunca existiram com legitimidade. "Nunca ocorreu a capacitação para que os indígenas realizassem o controle social", afirmou. Mesmo assim, com o bloqueio da estrada de ferro, eles garantiram a exoneração do último coodenador regional da Funasa e o início do processo de autonomia do Distrito Sanitário Especial Indígena do Maranhão. "Mas essa autonomia ainda não é nada concreta", apontou