Petrobras diz não negociar com a Bolívia há um mês por falta de interlocutor

29/03/2006 - 19h54

Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil

Rio – A Petrobras admitiu hoje (29) que estão paradas as negociações com o novo governo boliviano sobre os investimentos da estatal no país. O diálogo está parado há um mês, segundo a assessoria da Petrobras, por falta de definição de um interlocutor pelo governo do presidente Evo Morales. A empresa confirmou as informações de uma reportagem, publicada hoje pela agência espanhola EFE, afirmando que as negociações estão paradas.

A estatal vem tentando retomar os diálogos interrompidos desde fevereiro. "A idéia é continuar tentando encontrar um canal de diálogo, embora não venhamos obtendo respostas das autoridades bolivianas às nossas tentativas", informou a assessoria da empresa.

A Petrobras afirmou, ainda, que as decisões não podem ser tomadas unilateralmente. A empresa confirmou que os novos investimentos a serem feitos naquele país estão em compasso de espera e dependem fundamentalmente do fluxo das negociações e da definição de um interlocutor claramente definido para conduzi-las.

Antes da interrupção das negociações, a Petrobras e o governo boliviano, através da Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YFPB), discutiam a assinatura de um memorando de entendimento contendo diversas linhas de ações incluindo sete áreas de cooperação e associação entre as duas empresas. Estes entendimentos significam associação nas refinarias, na exploração e produção de petróleo, cooperação na área de biocombustíveis, no desenvolvimento do mercado de gás natural, na conversão veicular de gasolina e diesel para gás e até na disseminação do uso do gás natural no setor residencial boliviano.

Informações do diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer, porém, indicam que esses acordos só seriam levados adiante se os dois países concluírem de maneira favorável as negociações em curso. A Petrobras lembra, porém, que existe contrato assinado e em vigência com o governo da Bolívia até 2019, o que garante através do Gasbol a importação diária de 27 milhões de metros cúbicos de gás natural.

Desde que foi criada, no final de 1995, a Petrobras Bolívia e seus parceiros já investiram US$ 1,5 bilhão no país (cerca de R$ 3,2 bilhões). Em menos de dez anos, tornou-se a maior empresa do país, com cerca de 18% de participação no Produto Interno Bruto (PIB) do país. Do total investido, a Petrobras respondeu sozinha por US$ 1 bilhão.

Segundo informações da própria estatal, entre 1994 e 2005, a Petrobras foi responsável por, aproximadamente, 20% dos investimentos diretos na Bolívia. A empresa brasileira é ainda responsável por 95% da capacidade de refino no país - produzindo 100% da gasolina consumida pelos bolivianos e por 60% do óleo diesel consumidos no país.