CPI cruzou dados de mais de 20 milhões de registros bancários de quase 3 mil contas bancárias

29/03/2006 - 20h42

Marcos Chagas e Ana Paula Marra
Repórteres da Agência Brasil

Brasília – Com uma base de dados de 20,41 milhões de registros bancários, distribuídos em 2.899 contas bancárias pertencentes a 461 correntistas investigados, o relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), foi obrigado a estabelecer uma metodologia de trabalho que permitisse não perder o foco das investigações.

Além dos extratos bancários, os técnicos da comissão tiveram que analisar 33,82 milhões de registros telefônicos, distribuídos em 590 mil linhas telefônicas que tiveram o sigilo quebrado.

"Diante dessa premissa, buscamos na principal conta que abasteceu o valerioduto [ o esquema de corrupção operado pelo empresário Marcos Valério de Souza], da SMP&B Comunicação Ltda., no Banco Rural, as informações financeiras de que necessitávamos para estabelecer o fluxo de recursos ao longo do período analisado", explicou o relator. Neste primeiro momento, acrescentou, as análises se detiveram aos anos de 2003 e 2004.

Osmar Serraglio explicou que, no entanto, a maioria das saídas financeiras desta conta apontava para a própria SMP&B. Segundo o parlamentar tratava-se de uma maneira de agir do empresário Marcos Valério de Souza de emitir cheques nominativos à própria empresa para só depois endossá-los. Isso obrigou a comissão a realizar diligências nas instituições financeiras envolvidas para identificar os beneficiários do dinheiro repassado por Valério por meio desta conta.

"Uma vez montada a base de dados das saídas financeiras, o passo seguinte foi realizar o cruzamento de dados e diagramar os fluxos de recursos ao longo do tempo", explicou. Foram então inseridas na base de dados as seguintes informações: visitas ao Brasília Shopping, mais especificamente à agência do Banco Rural; trocas de partidos políticos, mais especificamente as idas para o Partido Liberal (PL), para o Partido Progressista (PP) e para o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB); e as votações no Congresso Nacional.

Toda esta metodologia, segundo Serraglio, permitiu apurar a distribuição de mais de R$ 55 milhões entre várias pessoas físicas e jurídicas. O relator destaca que parte dos beneficiários são os verdadeiros destinatários dos recursos, mas "nem todos os nomes identificados consubstanciam-se nos verdadeiros beneficiários finais dos recursos".

Na relação, constam várias empresas, assim como pessoas físicas, intermediárias no processo de repasse. "É necessário dar prosseguimento à investigação sobre esses primeiros beneficiários para chegarmos ao destinatário final", diz Serraglio.