Acordo pode ajudar a resolver disputa com Argentina sobre indústrias de papel, avalia uruguaio

29/03/2006 - 17h45

Mylena Fiori
Enviada Especial

Curitiba - O governo uruguaio considera que a adoção de estratégias conjuntas para a preservação da biodiversidade no Mercosul sinaliza a possibilidade de uma solução pacífica para a queda-de-braço que o país vem travando com a Argentina devido ao projeto de instalação de duas fábricas de pasta e celulose junto ao Rio Uruguai, na divisa entre os dois países.

Um documento conjunto estabelecendo uma série de compromissos na área ambiental foi aprovado nesta quarta-feira pelos quatro países integrantes do Mercosul, em evento paralelo à 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP8). A Argentina questiona o impacto ambiental dos empreendimentos, que, segundo o governo uruguaio, representam o maior investimento privado já feito naquele país: US$ 1,7 bilhão.

As disputas por causa das fábricas da Empresa Nacional Celulosa España (Ence) e da finlandesa Botnia resultaram em uma crise política entre os governos dos presidentes da Argentina, Nestor Kirchner, e do Uruguai, Tabaré Vasquez. O governo argentino conseguiu, inclusive, a aprovação do Congresso Nacional para apelar à Corte Internacional de Haia contra as obras no país vizinho.

Entre fevereiro e março, manifestantes argentinos chegaram a bloquear por 45 dias o trânsito entre a cidade argentina de Gualeguaychú e a cidade uruguaia de Fray Bentos, principal ligação entre os dois países. Kirchner e Vazques concordaram com a paralisação das obras por 90 dias, para inspeções rigorosas sobre os riscos de poluição.
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"Continuamos negociado diretamente por meio dos representantes dos presidentes Tabare Vasquez e Nestor Kirchner", garantiu o ministro de Habitação, Ordenamento territorial e Meio Ambiente do Uruguai, Mariano Arana, em entrevista à Agência Brasil hoje.

Arana, que é arquiteto e foi Intendente (cargo equivalente ao de prfeito) de Montevidéu de 1995 a 2004, destacou que o Uruguai sempre apostou na via da negociaçào desde que o diálogo seja sustentado em argumentos técnicos e científicos, técnico e científico e não apenas baseado em presunções. "Estamos falando de plantas processadoras de celulose que estão projetando sua atuação com base nas melhores práticas disponíveis no mundo todo", enfatizou o ministro.

Segundo ele, o governo uruguaio não pode garantir que as empresas privadas não vão provocar contaminação ambiental, mas pode assegurar, por meio de monitoramento, que sejam cumpridos os parâmetros nacionais e internacionais aconselháveis para assegurar a biodiversidade e a saúde humana "Este é o nosso compromisso. Enquanto era prefeito de Montevidéu, fechamos definitivamente importantes fábricas de cimento portland e de azeite, por exemplo".

Arana acredita que os acordos ambientais aprovados hoje fortalecem a integração do Mercosul. Ele nega vehementemente que o Uruguai esteja pensando em abandonar o bloco, como anunciado informalmente por representantes daquele governo nos últimos meses. "De maneira nenhuma", assegurou. "Aproveitam a situação presente para forçar condutas do Uruguai. Há gente que nunca quis o Mercosul. Nós, pelo contrário, apostamos e seguimos apostando no Mercosul."