CPI dos Bingos recebe fitas citadas por juiz, com escutas na prefeitura de Santo André

26/10/2005 - 21h54

Brasília, 26/10/2005 (Agência Brasil - ABr) - Já chegaram à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos 42 fitas cassete com 13 horas de escutas telefônicas realizadas na prefeitura de Santo André entre janeiro e março de 2002, após a morte do ex-prefeito Celso Daniel. Na época, a Polícia Federal solicitou autorização da Justiça para o grampo alegando investigações referentes a tráfico de drogas.

As gravações foram requisitadas ontem (25) pelo presidente da CPI do Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), à 4ª Vara da Justiça Federal de São Paulo, após depoimento do juiz afastado João Carlos da Rocha Mattos. Preso sob a acusação de vender sentenças, Rocha Matos disse ter ouvido trechos de gravações telefônicas nas quais integrantes do PT demonstrariam não ter interesse em esclarecer a morte do ex-prefeito Celso Daniel.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) teve acesso a parte das gravações antes dos demais integrantes da CPI e tentou apresentá-la na tarde de hoje (26), durante acareação entre e os irmãos do ex-prefeito Celso Daniel e o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho. A fita gerou polêmica. Diversos parlamentares levantaram a possibilidade de questionamento judicial da sessão devido ao uso de gravação que não pertencia á CPI. Também alegaram estar em situação de desvantagem, pois não conheciam o teor da gravação e não puderam preparar-se para pedir esclarecimentos a Carvalho.

O chefe de gabinete da Presidência da República prontificou-se a prestar todos os esclarecimentos necessários quando as gravações chegassem à CPI, na íntegra, e periciadas. "Essas fitas são um mistério que ronda desde 2002, mas nunca me foram apresentadas na integralidade. Não tenho medo das fitas e tenho curiosidade de ouvi-las na íntegra" afirmou Carvalho.

Até mesmo o relator, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), fez um apelo para que a CPI aguardasse a chegada da totalidade das gravações. Diante disso, o senador Álvaro Dias apenas relatou alguns trechos degravados, mencionou diálogos entre Carvalho e José Dirceu (na época presidente do PT) e pediu explicações a Carvalho: "Fica claro que havia orientação dos depoimentos". Carvalho respondeu que "se trata de uma conversa absolutamente retirada de um contexto. É preciso entender o contexto do que víamos naquele momento em Santo André".

Ele explicou "a Polícia Civil, num primeiro momento, dirigia fortemente as suas investigações contra os amigos do Celso Daniel, contra os funcionários da prefeitura. Não se buscava prender os eventuais assassinos do Celso, não havia movimentação neste sentido". E esclareceu: "Eu não recebia qualquer orientação do Dirceu. Pelo contrário, nós íamos reclamar dele uma maior participação do partido no protesto contra aquela linha, que julgávamos errada, que a polícia estava fazendo".

Álvaro Dias mencionou outros trechos de conversas telefônicas que insinuariam preparação de depoimentos. "São conversas gravadas e indicam para uma orquestração com o objetivo de dar a versão de crime comum, e não de crime político", acusou.

Gilberto Carvalho destacou que o PT, por meio do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, foi ao presidente Fernando Henrique Cardoso pedir apoio da Polícia Federal nas investigações da morte do ex-prefeito. Também pediu atenção especial ao caso ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin – ambos do PSDB. "Se quiséssemos encobrir alguma coisa nós iríamos ao governador, a quem fazíamos oposição, nós iríamos ao Fernando Henrique, nós iríamos buscar apoio internacional", indagou.

E concluiu: "Eu desafio a gente a ouvir o conjunto das fitas, desafio que a gente discuta com a polícia de São Paulo e qualquer outra autoridade se em algum momento houve alguma obstaculização de nossa parte em relação à investigação".