Érica Santana
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O adiamento da sessão que aceitaria ou não a renúncia do presidente Carlos Mesa foi uma "jogada política" do presidente do Congresso, Vaca Diez. A opinião é do diretor da Fundação Solón e integrante do Movimento Boliviano de Luta contra a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), Pablo Sólon.
Sólon acredita que Vaca não possui apoio popular. "Como ele não consegue ganhar no Congresso e a oposição nas ruas é muito forte, ele joga essa carta, que é a de provocar o desastre", manifesta Sólon. O diretor acredita que a sessão marcada para logo mais também será adiada.
Sólon diz que a renúncia de Diez é fundamental – e não pode ser imposta. Por essa razão, ela é tão estratégica. "Por isso, ele joga e deixa que a situação se prolongue até provocar uma crise. Ela então passa a justificar essa intervenção violenta, em que não se descarta uma ação combinada com a presença militar’, explicou. Para ele, caso essa situação se estenda, Diez "poderá aparecer como a pessoa que trará a paz depois de ter incendiado tudo".
De acordo com Sólon, o líder oposicionista Evo Morales, do Movimento ao Socialismo (MAS), e Carlos Mesa têm uma conduta similar em relação à renúncia do atual presidente do Senado. "Assim como o presidente Morales acredita que Vaca Diez e Cossio têm de renunciar para que o presidente da Corte Suprema de Justiça assuma, Morales propõe uma saída de fundo constitucional e democrático". Evo Morales é o principal líder das manifestações que ocorrem no interior do país.
As manifestações sociais das últimas duas semanas isolaram a capital La Paz e já provocam desabastecimento de comida, gás e medicamentos em diversas cidades da Bolívia. Hoje foram suspensos vôos no aeroporto da cidade.
A tensão social na Bolívia aumentou nas últimas horas, depois que a sessão extraordinária do Congresso foi adiada para esta tarde. A sessão deveria ser realizada na manhã desta quinta-feira (09) para tratar do pedido de renúncia do presidente da República, Carlos Mesa. O atraso, assim como a convocação da sessão, foi pedido pelo presidente do Senado, Hormando Vaca Diez – o primeiro na linha sucessória presidencial.
A posição de Diez se deve, principalmente, ao fato do presidente Mesa ter pedido a ele e ao presidente da Câmara dos Deputados, Mario Cossío, que também renunciassem, para que novas eleições fossem realizadas. Algo só poderá acontecer se o presidente da Suprema Corte de Justiça, Eduardo Rodríguez, assumir a presidência do país.