Além das filas, pacientes no Rio enfrentam falta de médicos e equipamentos

10/03/2005 - 23h04

Rio, 10/3/2005 (Agência Brasil - ABr) - Filas, demora no atendimento, falta de médicos e de equipamentos, além de precariedade das instalações. Estes são alguns problemas enfrentados todos os dias pelos milhares de pacientes dos hospitais públicos do Rio. Nesta quinta-feira, por exemplo, no Hospital Souza Aguiar, uma das maiores unidades de emergência da América Latina, faltavam oftalmologistas no pronto-socorro até pouco antes das 17h: os únicos médicos da especialidade estavam envolvidos em um procedimento cirúrgico.

A doméstica Ângela da Silva de Souza, de 39 anos, estivera no hospital no dia anterior para resolver um problema na vista do filho e não conseguira ser atendida pelo mesmo motivo. Hoje ele voltou à unidade às 10h, mas precisou esperar por quase sete horas. "Nem todo mundo tem condições de pagar um plano de saúde e procurar um hospital particular. Então a gente vai para o hospital público, mas quando chega, a situação é precária", disse. Ela teve que faltar ao serviço por dois dias.

Já o pedreiro Amauri Dias Gomes, de 43 anos, teve o olho atingido por um fiapo de aço durante o trabalho. Foi atendido no posto de saúde na zona Oeste, mas não conseguiu resolver o problema e buscou, então, o Hospital Estadual Rocha Faria, no mesmo bairro, onde passou por nova frustração. "Os médicos mandaram eu vir para cá. Estou aqui cheio de dor e esperando, querendo resolver meu problema. Desde as 8h ando pelos hospitais", contou o pedreiro, para quem "a saúde no Rio está muito precária, na maioria dos hospitais, a burocracia impede o bom atendimento".

Somente às 16h50 foram chamados os primeiros dez pacientes. Diante da seleção de alguns privilegiados, uma confusão se armou entre as cerca de 30 pessoas que esperavam na fila. A vendedora Priscila Graciele, de 19 anos, com uma irritação no olho, ficou de fora da primeira leva. "Acho um absurdo. Isso é uma bagunça. Eles falam que o médico está fazendo cirurgia e não fazem nada", disse.

Na entrada do hospital, uma senhora de 45 anos não escondia sua frustração. Com diagnóstico de mioma, Glória de Jesus sentia dores, mas não conseguia atendimento, mesmo depois de passar por três hospitais. E reclamava: "Agora me mandaram para outro hospital. Como é que eu vou? Já até acabou o dinheiro da minha passagem. Desde as 8h estou passando de hospital em hospital. Já fui ao Alexander Fleming (Marechal Hermes) e ao Hospital Geral de Bonsucesso. Agora, aqui, já falaram que não vão atender porque não tem ginecologista e me mandaram ir para a Praça XV."