FSM: economia solidária é alternativa ao desemprego

30/01/2005 - 19h28

Márcia Detoni
Enviada especial

Porto Alegre – Um número cada vez maior de mulheres desempregadas forma cooperativas para a reciclagem de lixo na periferia das grandes cidades brasileiras, enquanto trabalhadores de empresas falidas assumem a gestão do empreendimento. "São cooperativas e associações que surgem a partir do desemprego, da violência familiar, da falta de habitação", explica Claiton Manfro, da Agência de Desenvolvimento Solidário da Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Rio Grande do Sul. Segundo ele, a economia solidária é hoje a alternativa mais importante dentro dos movimentos populares e sindicais para a geração de empregos da população excluída.

Claiton Manfro analisou na tarde de hoje a experiência brasileira de economia solidária em um painel do 5º Fórum Social Mundial organizado por institutos e organizações internacionais da área de desenvolvimento sustentável. O Brasil - e especialmente o Rio Grande do Sul - tem avançado de forma significativa, nos últimos anos, na construção de alternativas de comércio para as populações mais pobres e excluídas. Não há dados oficiais sobre a quantidade de empreendimentos nessa área em âmbito nacional, mas no Rio Grande do Sul a estimativa é de que 550 associações e cooperativas movimentem mais de 30 mil pessoas, oferecendo a elas uma renda média mensal de R$ 300.

"A renda ainda é baixa", reconhece Claiton, "mas existem associações e cooperativas que já estão ultrapassando os R$ 1.000 e servindo de modelo para os demais empreendimentos". Na cidade gaúcha de Dois Irmãos, por exemplo, a Associação de Reciclagem garante a seus membros uma renda média de R$ 850 e, em alguns períodos, os associados conseguem ganhar mais de R$ 1.000 por mês. .

Para os militantes da economia solidária, a criação, pelo governo Lula, da Secretaria Nacional de Economia Solidária, ligada ao Ministério do Trabalho, foi um grande avanço para o cooperativismo. "Existem excelentes programas e inclusive linhas de financiamento que estão contribuindo para a elevação de nível de renda, para ampliação do comércio e para a melhoria da qualidade de vida", comentou Claiton.

O representante da CUT observa, no entanto, que ainda há grandes empecilhos ao desenvolvimento da economia solidária. "É preciso reduzir a carga tributária para a abertura de cooperativas no Brasil. Para abrir uma empresa privada, a carga tributária é de 11% e, para as cooperativas, é de 31%", reclama.

Já tramita no Congresso Nacional um projeto de lei que reduz a carga tributária das cooperativas que movimentam até R$ 40 mil por mês para cerca de 4%. "Isso vai fazer com que as cooperativas sejam potencializadas e que a economia solidária se transforme no maior movimento econômico popular do país", prevê o representante da CUT.