André Deak e Rodrigo Savazoni
Enviados especiais
Porto Alegre – Parafraseando seu amigo, diretor do jornal francês Le Monde Diplomatique, Ignácio Ramonet, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse que existe uma "ditadura midiática" no mundo. A afirmação foi feita durante a coletiva de imprensa deste domingo (30), logo após sua visita a um acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra.
O presidente venezuelano falou que costuma levar esse assunto – a "ditadura midiática" – para seus encontros internacionais, "mas o tema é um tabu". Desde o Golpe de Estado sofrido por ele em abril de 2002, quando a mídia comercial venezuelana se incorporou ao movimento golpista, Chávez passou a estabelecer regras e instrumentos de fiscalização sociais para os meios de comunicação de seu país.
Os comentários foram feitos depois de dizer que a maioria dos jornais dos Estados Unidos publicaram "umas cem vezes" fotos suas junto ao ex-presidente Sadam Hussein, mas nunca publicaram suas fotos com o Papa ou outras personalidades. "De fato, estive no Iraque e encontrei o presidente daquele país, mas também estive com Clinton, e nunca publicaram minhas fotos com ele".
A Venezuela aprovou, recentemente, a Lei de Responsabilidade Social dos Meios de Comunicação, o que gerou polêmica e algumas manifestações que viram nela um método de controle da mídia. Chávez disse que "a crítica vem e vai, mas deve-se respeitar a dignidade. As crianças não podem ver essa violência e a mídia não pode transmitir chamados ao terrorismo". Nas semanas que precederam o Golpe de Estado contra o líder venezuelano, as televisões chegaram inclusive a exibir pessoas que propunham assassiná-lo.
Chávez disse ainda que a Telesur, uma rede de televisão voltada para os povos do sul do mundo que começou a operar a partir da iniciativa venezuelana, pretende permitir que esses países conheçam uns aos outros sem precisar da mediação dos grandes conglomerados de mídia, como a CNN. Segundo ele, a programação da emissora aproveitará conteúdos de televisões comunitárias dos países e das TVs estatais. "É um canal que deve dizer a verdade, às ordens do povo, e não às ordens do governo", afirmou.