Bem-humorado, Chávez diz que é preciso transcender o capitalismo

30/01/2005 - 20h04

André Deak e Rodrigo Savazoni
Enviados especiais

Porto Alegre (RS) – O presidente venezuelano, Hugo Chávez, mobilizou a atenção da imprensa neste domingo, penúltimo dia do Fórum Social Mundial. No início da tarde, concedeu uma concorrida coletiva de imprensa, da qual participaram cerca de 300 jornalistas de diferentes países. Bem-humorado, Chávez respondeu a apenas cinco questões, sorteadas pela sua equipe de comunicação. Foram estabelecidas cotas para a participação: duas perguntas foram para veículos alternativos e comunitários, uma para publicações latino-americanas, e duas para meios credenciados pelo Fórum.

Para responder às perguntas, Chávez levou mais de hora e meia. Tempo necessário para expor sua luta contra o governo dos Estados Unidos. De forma jocosa e irônica, com direito a piadas e anedotas – a atual secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleeza Rice, por exemplo, transformou-se em "Condolência Rice" – o presidente venezuelano demarcou o território político e ideológico que separa o seu governo e o de George Bush. "O imperialismo temos que chamá-lo com seu verdadeiro nome: im-pe-ria-lis-mo", disse, acentuando cada uma das sílabas. "E nós somos antiimperialistas".

As relações políticas entre Venezuela e Estados Unidos, segundo o próprio Hugo Chávez, são "tormentosas". Os países mantêm suas embaixadas abertas e não deixaram de estabelecer relações comerciais em nenhum momento. Mas desde que, meses após o golpe de Estado sofrido pelo presidente venezuelano em abril de 2002, foram divulgados documentos que comprovam o envolvimento de Washington na articulação golpista, as relações, que já não eram amistosas, se deterioraram por completo.

Durante a coletiva, Chávez afirmou que "é necessário transcender o capitalismo". De acordo com a análise do presidente venezuelano, no marco do modelo capitalista será impossível solucionar os graves problemas de pobreza da grande maioria do mundo. "Não há solução dentro do capitalismo. Tampouco se trata de estatismo, de capitalismo de Estado, que seria a mesma perversão soviética, que foi a causa de sua derrocada. Temos que reivindicar o socialismo como tese, como projeto, como caminho. Um outro socialismo, que ponha o homem e não a máquina em primeiro plano, que enfoque o ser humano e não o Estado", discursou.

Para tanto, Chávez defendeu que é preciso recuperar certas palavras. E citou o exemplo da igualdade. "Esse é um termo que temos que recuperar", defendeu. "Há várias palavras que foram engavetadas. Quase ninguém falava mais delas. Temos que começar a falar essas palavras, temos que começar a levantá-las como bandeira de luta. Você ouve o presidente dos Estados Unidos falar em seu discurso cinqüenta e tantas vezes em "freedom" (liberdade em inglês)".

Nessa altura da conversa com os jornalistas, Chávez mostrou-se novamente bem-humorado. "Bush promete como Superman lutar pela justiça. O que ocorre no entanto é que nós temos criptonita vermelha. Temos bastante", brincou, fazendo referência ao personagem norte-americano. "Eles falam de "freedom", "liberty", mas não falam em nenhum momento em igualdade". Na noite deste domingo, Chávez ainda proferiu uma palestra com o título "O Sul norte de nossos povos" para cerca de dez mil pessoas que lotaram o ginásio do Gigantinho.