Spensy Pimentel
Enviado especial
Manaus - O 4º Fórum Social Pan-Amazônico, que se realiza na capital amazonense até sábado (22), funciona como espaço de troca de experiências de organização política para indígenas dos diversos paises por que se espalha a maior floresta tropical do planeta, além de representantes de comunidades mais longínquas.
Entre os observadores presentes ao encontro está a ativista Surekha Dalvi, representante de uma coalizão que, segundo os organizadores do Fórum, abarca 70 milhões de "indígenas" (representantes de comunidades tradicionais) da Índia. "Vim para conhecer a região e seus habitantes. Nunca estive aqui, mas acho que temos muito em comum. Em todo o mundo, enfrentamos hoje a mesma realidade de lutar contra a globalização imperialista e por uma globalização humanizada, contra a privatização dos recursos naturais, como a água e a
floresta", afirma.
Irma Velásquez encarou dois dias de avião para chegar a Manaus. Ela vive numa comunidade F’ichee’, na região de Quetzaltengo, na Guatemala, país da América Central. Irma diz ter vindo ao fórum para fazer contatos com outros povos indígenas latino-americanos. "Se não há conhecimento de luta e estratégia, não se avança", afirma ela, que considera como bons exemplos de organização indígena a Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) e as experiências do Chiapas, no México (região parcialmente controlada há dez anos pelos guerrilheiros indígenas do Exercito Zapatista de Libertação Nacional). "Mas não há modelos, cada povo vai encontrar sua própria forma de organização", acrescenta.
O jovem Marlon Santi, da etnia kichwa, é representante da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), uma das entidades organizadoras do Fórum, tão forte em seu país que, em 2000, foi a principal articuladora da série de manifestações que culminou com a deposição do então presidente equatoriano Jamil Mahuad. "Foi uma luta para mudar a nossa imagem política. Agora queremos mudanças no governo Lucio Gutierrez, que se vendeu ao imperialismo", afirma. Ele explica que a Conaie considera medidas que permitiram aumento da presença militar americana no país como sinal da traição de Gutierrez. O presidente ascendeu democraticamente ao poder pouco depois da deposição de Mahuad, com apoio dos movimentos indígenas do país.
"O que ainda precisamos resolver em eventos como este é a falta de comunicação entre os povos indígenas da região", afirma Celestino Wisnu, ashuar que também é ligado à Conaie.
"A defesa dos direitos indígenas não cabe só a nós. Toda a sociedade tem de saber disso", afirmou, em uma das conferências da manhã de hoje, a advogada Joênia Wapichana, primeira indígena brasileira nessa profissão. No ano passado, ela recebeu em Nova York (EUA) o prêmio Reebock 2004 - Em Defesa dos Direitos Humanos, ao lado do afegão Nader Nadery, da nigeriana Yinka Ekpe (mulheres com Aids) e da norte-americana Vanita Gupta (racismo no sistema judiciário).
Durante o encontro, os indígenas de Roraima aproveitam para divulgar sua luta pela demarcação da área de Raposa Serra do Sol como território contínuo. Vale pregar cartazes pelas paredes do local onde se realiza o Fórum Social Pan-Amazônico, distribuir folhetos e até vender de mão em mão o CD "Caxiri na Cuia", coletânea de forrós com letras pró-indígenas – trata-se de uma resposta dos índios de Roraima a canções consideradas preconceituosas produzidas pelos brancos da região nos últimos anos.