Presidente de instituto que certifica alimentos orgânicos critica MP dos Transgênicos

15/10/2004 - 19h58

Liésio Pereira
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - O presidente do Instituto Biodinâmico (IBD), Alexandre Arcari, alertou hoje que a produção de transgênicos (organismos geneticamente modificados) não resolve os problemas da agricultura e podem, até mesmo, piorar os problemas sociais. O IBD é o maior certificador de alimentos orgânicos (produzidos sem insumos industriais) do Brasil.

"A natureza contorna essa tecnologia e continuam existindo os mesmos problemas técnicos que já existiam. Na verdade, o que está acontecendo é que nós estamos ‘tombando’ a uma tecnologia em nome do paradigma da ciência, e não é nada disso. Abandonou-se todas as outras formas de pesquisa tecnológica e se concentra todos os créditos, os recursos, na biotecnologia, em um programa altamente concentrador e pouco social", disse, ao comentar a medida provisória que liberou o plantio de soja transgênica na safra 2004/2005.

"Nos países onde a cultura já existe há mais tempo, você já tem ervas daninhas ficando resistentes", revelou.

Segundo Arcari, o agricultor convencional que está aderindo às sementes transgênicas procura uma forma de simplificar sua produção e acaba correndo outros riscos.

"(A biotecnologia) é uma tecnologia questionável, que tem produtividade menor do que as outras tecnologias que o Brasil – com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e outras empresas – conseguiu levar para frente. É um rolo compressor que está passando por cima de toda a sociedade, não importa quem", alertou.

Segundo ele, o Brasil está perdendo a oportunidade de se tornar, por exemplo, o maior exportador de soja para a Europa – que só aceita a soja transgênica para a produção de ração animal. "O Brasil perde a grande chance de se tornar praticamente um fornecedor exclusivo (de soja) da Europa para alimento humano", afirmou.