Liésio Pereira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – "As medidas tomadas pelo governo em relação à produção de transgênicos no país desconsideram os produtores orgânicos e não-transgênicos como cidadãos", analisou o presidente do Instituto Biodinâmico (IBD), Alexandre Arcari, sobre a medida provisória (MP) que autoriza o plantio de soja transgênica na safra 2004/2005. O IBD é o maior certificador de alimentos orgânicos (produzidos sem insumos industriais) do Brasil.
"Existe todo um setor na sociedade, menos poderoso, que são os produtores orgânicos e os produtores convencionais não-transgênicos – que preferem ficar não-transgênicos – que estão sendo contaminados e sendo levados nesse ‘rolo compressor’, nessa ‘avalanche’. Isso é muito ruim, porque você acaba beneficiando um setor em detrimento total do outro setor. Os direitos não estão sendo preservados", disse.
Arcari alertou que plantações inteiras de produtos orgânicos [alimentos produzidos sem insumos industriais] estão sendo eliminadas porque são detectados genes transgênicos nas plantas. Além disso, os produtores perdem a certificação de seus produtos por causa da contaminação. "[A contaminação] é um dos principais problemas dos agricultores orgânicos. Para dar um exemplo, nos outros países onde os transgênicos existem há mais tempo - Estados Unidos, Canadá – as sementes não transgênicas estão sendo contaminadas, e isso acontece de uma maneira involuntária", disse.
Ele explicou que, se um produtor transgênico cultiva sua plantação ao lado de um orgânico ou não transgênico, acaba contaminando o vizinho, principalmente em relação às plantas de polinização cruzada [(transferência de pólen de uma flor para outra na mesma planta ou em plantas diferentes]. "Com a soja, que é autofecundante, esse cruzamento não acontece com tanto risco, mas a contaminação se dá através do uso das máquinas, dos beneficiamentos, dos portos", explicou.