Brasília, 24/9/2004 (Agência Brasil - ABr) - A crise do setor de pecuária de corte no país levou os criadores de gado a uma reunião de emergência hoje, na sede da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que resultou num documento defendendo mudanças no Sistema Brasileiro de Identificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov).
Pelo texto, a certificação individual do gado passaria a ser voluntária e não obrigatória, a exemplo do que já é feito em outros países. A principal justificativa dos produtores contra a certificação individual do gado é que a medida encarece o produto.
Além da certificação individual voluntária, a CNA sugeriu um sistema de certificação de propriedades, que identificaria todo um lote de animais criados numa mesma fazenda. Segundo o presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte da CNA, Antenor Nogueira, a determinação de certificar individualmente o gado é "impossível de ser cumprida".
Nogueira disse que o Grupo de Trabalho para Automação, Rastreabilidade e Padronização Comercial, formado pelo Ministério da Agricultura, foi convidado para acompanhar as fases do processo de certificação individual do gado. "Nós convidamos o grupo todo para acompanhar um embarque de boi para eles tomarem consciência da impossibilidade de ser cumprido um processo desses da forma que foi criado", ressaltou.
Os pecuaristas alertaram também para o problema da febre aftosa nas regiões Norte e Nordeste, motivo que levou a Rússia a impor embargo à carne de exportação brasileira. O Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte encomendou um estudo para analisar a situação sanitária nessas regiões. De acordo com Nogueira, o primeiro esboço do levantamento feito por epidemologistas é preocupante, mas ele não acredita que o quadro possa afetar a produção no país.
"É uma área que ainda não é considerada de zona livre. O que nós precisamos é entregar esse relatório ao ministro Roberto Rodrigues para que ele tome conhecimento do que está acontecendo para resolver definitivamente esse assunto", disse Nogueira. A previsão é que o estudo seja entregue ao ministro no dia 10 de outubro.
Sobre o embargo à carne brasileira imposto pela Rússia, Nogueira disse que tudo não passa de um jogo comercial entre os dois países e um pretexto da Rússia para que seja discutida a questão da importação do trigo produzido naquele país para o Brasil. "Há vários anos a Rússia solicita a abertura da exportação de trigo para o Brasil, assunto que ainda não foi analisado pelo Ministério da Agricultura". Ele acrescentou ainda que o "embargo de fato não aconteceu porque havia muita carne estocada que continua sendo exportada".
O Ministério da Agricultura não confirmou avanços das negociações entre a comitiva brasileira e o governo russo, que suspendeu a importação de carne brasileira.