Lana Cristina
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O enriquecimento de urânio é necessário para que o mineral seja usado como fonte geradora de energia, já que o minério extraído da natureza tem um teor de 0,7% de urânio-235. A concentração ideal para geração de energia fica entre 3% e 5%. Com a construção da planta da INB (Indústrias Nucleares do Brasil) em Resende (RJ), o Brasil tornou-se um dos nove países do mundo a deter a tecnologia de enriquecimento de urânio, usada em escala industrial.
O urânio utilizado nas usinas de Angra 1 e 2, as duas únicas usinas nucleares do país, em Angra dos Reis (RJ) é enriquecido pelo consórcio Urenco, formado por Alemanha, Inglaterra e Holanda. A tecnologia usada é a ultracentrifugação, considerada a mais eficiente, por gastar menos energia. O processo é dominado também pela Rússia, China e Japão. Estados Unidos e França detêm um processo mais caro, a difusão gasosa, que chega a gastar 25 vezes mais energia que a técnica desenvolvida pelos pesquisadores brasileiros.
A tecnologia da ultracentrifugação brasileira foi desenvolvida pelo Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) para a empresa estatal responsável pelo ciclo do urânio, a INB. O ciclo do urânio vai desde a mineração até a fabricação do elemento combustível usado no reator das usinas nucleares. A fábrica da INB em Resende foi adaptada para realizar a ultracentrifugação do minério e poderá atender a 60% da demanda de Angra 1 e 2. A capacidade de enriquecimento do urânio do Brasil é de um teor de 5%, mas segundo a assessoria de comunicação do MCT, a INB produzirá urânio enriquecido a uma proporção de 4%.
O Brasil voltou a negociar com a AIEA sobre as inspeções com vistas à assinatura de um acordo de salvaguardas já na gestão de Eduardo Campos. O novo ministro assumiu depois da última reforma ministerial em janeiro. O processo estava suspenso desde junho do ano passado, quando a AIEA pediu a inspeção visual das centrífugas e o Brasil recusou o requerimento, alegando segredo tecnológico e industrial. Na semana passada, Campos apresentou a ElBaradei a proposta técnica brasileira sobre a inspeção da AIEA e, no último dia 23, ao encontrar-se com o diretor da agência em Viena, reforçou a importância de chegar a um acordo sobre a visita dos técnicos. Segundo a assessoria de imprensa do MCT, houve uma reação positiva da AIEA para que se chegue a um consenso.
Uma missão da agência virá ao Brasil em outubro para verificar as possibilidades técnicas para o cumprimento das salvaguardas. Em resumo, o acordo de salvaguarda contém a política de fiscalização e controle. Várias notícias foram publicadas na imprensa internacional desde que o Brasil anunciou que detém a tecnologia do enriquecimento de urânio, registrando o receio de que o país estaria se alinhando à países como Irã e Coréia do Norte. Estes já anunciaram a pretensão do desenvolvimento de armas nucleares.
O governo brasileiro reiterou por diversas vezes o uso pacífico do urânio a ser enriquecido em Resende e também que é signatário de vários acordos nucleares, dentre eles o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares e outro que permite inspeções não anunciadas. Um acordo entre o Brasil e a AIEA sobre a planta de urânio enriquecido só sairá depois da visita dos técnicos. Além disso, a Comissão Nacional de Energia Nuclear, ligada ao MCT, precisa avaliar as instalações da fábrica para efeito de licenciamento. Nesse processo, são feitas várias verificações: as condições de operação, capacidade de produção, treinamento de pessoal, condições de segurança, dentre outras.
O urânio enriquecido serve para a fabricação das pastilhas usadas nos elementos combustíveis das usinas eletronucleares de Angra dos Reis. As pastilhas que a Urenco devolve ao Brasil (o país prospecta o minério e o envia para a cidade de Urenco, na Holanda, para o processo de enriquecimento) são enriquecidas a 4%. Se o objetivo for a produção de armas, de artefatos explosivos, o enriquecimento tem que atingir níveis da ordem de 95%. Isso só pode ser atingido em instalações com 50 estágios a mais do que as de Resende.
Estima-se que o Brasil vá economizar algo em torno de R$ 12 milhões, a cada 14 meses, ao enriquecer o urânio em planta própria. O Brasil é o sexto produtor mundial de urânio e tem a quarta maior reserva do minério no mundo. Em audiência pública realizada na Câmara dos Deputados em abril, o ministro Eduardo Campos disse que a instalação de Resende vai tornar o Brasil auto-suficiente na produção de urânio enriquecido. Assim, o país não teria mais que enviar o urânio bruto para Holanda para recebê-lo na concentração ideal para produção de energia elétrica. Atualmente, 50% da energia consumida nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo vêm das usinas Angra 1 e 2.