Liésio Pereira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – "A polícia mais ameaça do que educa", disse nesta quinta-feira o morador de rua, Disley Germano, durante audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de São Paulo.
"Os moradores estão com medo. Medo da polícia e dos bandidos também. Não sabem para onde correm", disse Disley Germano. Ele informou que os moradores têm medo da violência policial e se recusam a ser conduzidos aos albergues. Em alguns casos, segundo Disley, os policiais ameaçam os moradores de rua quando eles recusam o auxílio.
"Em que eles podem confiar? Se a polícia oferece ajuda, eles ficam com medo. Se a prefeitura oferece a ajuda, eles ficam desconfiados. Não dormem mais, ficam nervosos, o consumo de bebida alcoólica aumentou entre eles. Estão em pânico. Eles têm medo de morrer", desabafou.
Disley esteve pela primeira vez na Assembléia Legislativa de São Paulo, conhecida entre os políticos como "Casa do Povo". O morador de rua foi levado por Alderon Pereira da Costa, da Associação Rede Rua.
Morador de rua há um ano e meio, Disley era porteiro e ficou desempregado. Não conseguia mais pagar o aluguel e passou a viver na rua. Hoje freqüenta um albergue da prefeitura. "Mas a maioria do tempo estou em contato com as pessoas da rua", ressaltou.
Segundo ele, o que dificulta a ida dos moradores de rua para os albergues são as regras impostas. "Os monitores são muito chatos e brigam com os moradores de rua", disse. "Não digo que há maus tratos nos albergues, mas há uma certa truculência no tratar com o albergado. Certos funcionários parecem que não são muito bem treinados para isso e não sabem conversar direito".
Apesar de criticar os funcionários dos albergues, Disley admite que os moradores de rua são difíceis de tratar, porque vêm de situações muito diferentes. Alguns com problemas de alcoolismo e uso de drogas. Segundo ele, é preciso saber conversar com cada um para que não se tornem agressivos.
"Acho que a prioridade para os moradores de rua é a auto-estima. Existem ótimas pessoas (moradores de rua) dentro dos albergues, mas elas não têm motivação para melhorar. Não adianta você criar um ótimo programa social se você não trabalha a auto-estima da pessoa. Ela não vai servir para esse programa e vai continuar excluída", analisou.