Presidente da SBPC defende mais crédito para a ciência

16/07/2004 - 19h36

Brasília, 16/07/2004 (Agência Brasil - ABr) - O físico Ennio Candotti, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), defendeu hoje que os cientistas recebam financiamentos para suas pesquisas no mesmo volume ao destinado aos produtores de soja para o plantio da safra.

Em palestra que fez parte da atividade semanal "Sexta com Ciência", promovida pela Secretaria de Inclusão Social do Ministério da Ciência e Tecnologia, Candotti lamentou que haja um desvio de interesse político e econômico para áreas de produção, em detrimento do desenvolvimento científico e tecnológico. "A ciência afeta a todos, mas ainda não conseguimos (os cientistas) convencer os donos do poder disso", disse.

A referência aos produtores de soja surgiu da comparação que Candotti fez com a necessidade por alimento e por ciência. "Certa vez, um produtor ao me explicar o porquê da expansão agrícola, me disse que preferia cortar uma árvore do que ver uma criancinha com fome. Quando propus a ele que a gente vendesse o carro dele para matar a fome da criança, ele desconversou", relatou.

Candotti lembrou que, há alguns anos, quando a produtividade da soja era de uma tonelada por hectare, os produtores pediam por uma variedade que rendesse mais por espaço plantado para evitar mais desmatamento. "Hoje, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) desenvolveu variedades que chegam a três toneladas por hectare e eles continuam desmatando. Mas os produtores de soja, em última instância, não colaboram para matar a fome da criancinha porque não contribuem para uma melhor distribuição de renda", constatou.

Ao referir-se ao tema da palestra, "Ciência para quê e para quem?", o presidente da SBPC ressaltou que, em última análise, questões como o público que se beneficiará do conhecimento científico e a finalidade da ciência são definidas em função das instituições públicas de pesquisa às quais pertencem os pesquisadores. Por isso, ele defendeu também que essas instituições sejam dirigidas democraticamente. "São elas (as instituições de pesquisa) que devem pensar no bem público. Afinal, do outro lado, também são elas que respondem quando alguma pesquisa não dá certo, como por exemplo, uma vacina defeituosa. É o nome e a reputação delas que está em jogo", afirmou.