Mulheres negras e indígenas pedem criação de fundo eleitoral

16/07/2004 - 19h40

Marina Domingos
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Umas das principais reivindicações das mulheres negras e indígenas durante a 1ª Conferência Nacional de Políticas para Mulheres será a criação de um Fundo Nacional Eleitoral para bancar a campanha de mulheres de baixa renda à cargos políticos. O fundo seria composto por 1,5% dos recursos arrecadados com prêmios das loterias da Caixa Econômica Federal. O gerenciamento ficaria sob a responsabilidade da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres e do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. "Se a cada semana tivermos um prêmio de R$ 23 milhões, serão 230 mil para as campanhas", afirma Deise Benedito, coordenadora do Fórum Nacional de Mulheres Negras e uma das autoras da proposta.

Deise Benedito, que também participa da ONG Fala Preta, explica que o principal objetivo é auxiliar nas campanhas de mulheres negras e indígenas de baixa renda, que muitas vezes recebem apoio para lançar a candidatura, mas não possuem condições financeiras de sustentar a estrutura para uma campanha eleitoral. Para não oferecer conotação de preconceito, os movimentos sociais de mulheres negras e indígenas decidiram retirar os termos ‘negra e indígena’ da proposta. A expressão mantida foi "mulheres de baixa renda". A proposta será levada à votação na plenária final, neste sábado, dia 17.

De acordo com Deise, não há estatísticas de quantas mulheres negras e indígenas participam do cenário político nacional. Ela lembra que até mesmo a participação das mulheres é limitada em 30% nas disputas eleitorais e cita como exemplo a Câmara dos Deputados, que das 503 vagas para parlamentares homens, apenas 44 são reservadas às mulheres. "Nos estamos no ano eleitoral, as mulheres negras candidatas e indígenas candidatas não tem recursos para suas candidaturas", argumenta.

A vereadora de Salvador, Olívia Santana, é um exemplo. Ela se candidatou pela primeira vez nas eleições de 2000 e não conseguiu ser eleita por uma diferença mínima de votos. "Nós tínhamos potencial político para ganhar em primeira mão, mas tínhamos condições de financiar a campanha", explicou ela.

Olívia conseguiu se eleger para a suplência e somente no ano passado assumiu uma vaga na Câmara de Vereadores. Ela destaca que a falta de apoio financeiro é o principal entrave das mulheres em campanha. "Em geral as mulheres passam pelo problema, mas as mulheres negras e indígenas mais ainda", avalia ela.

A vereadora acredita que outra dificuldade encontrada pelas mulheres na hora de se candidatar é a própria visão dos partidos. Segundo ela, como a maioria deles é dirigida por homens fica difícil ver mais mulheres como candidatas. "O que predomina é uma visão masculina de fazer política", revela.


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