Rafael Gasparotto
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O procurador Regional da República, Marcelo Serra Azul, afirmou hoje em entrevista coletiva que não há motivo para "indignação" de integrantes do governo com a atuação do subprocurador da República, José Roberto Santoro. Segundo Serra Azul, as referências feitas a autoridades do governo federal foram parte de uma tática de negociação e não revelam flagrante de ato ilegal.
A defesa de Serra Azul está relacionada à divulgação, ontem, pelo Jornal Nacional, da TV Globo, de uma fita de áudio contendo diálogo entre o subprocurador Santoro e o empresário de jogos de azar Carlos Augusto Ramos, o "Carlinhos Cachoeira". A conversa dos dois foi gravada no dia 8 de fevereiro, numa madrugada, na própria sede da Procuradoria da República. O tema foi a negociação em torno da entrega de uma fita de vídeo que apresentava um pedido de propina por parte do então presidente da Loterj e ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, demitido em fevereiro após a divulgação dessa fita pela revista Época.
Os procuradores reconheceram que a conversa divulgada ontem de fato aconteceu. Serra Azul justificou o diálogo apontado pelo JN como sendo uma forma de "persuasão" para que Ramos entregasse a fita. "Estávamos lidando com pessoas ligadas ao crime. Por isso, tínhamos que nos aproximar do mundo dela e conversar com ela nos termos dela", disse ele.
Segundo Serra Azul, o subprocurador usou essa "técnica" para convencer Ramos a se tornar réu-colaborador nas investigações de irregularidades que envolviam Waldomiro Diniz. Na versão do procurador, Ramos queria colaborar, mas temia represálias do governo. "Ele falou que entregaria a fita, mas queria que houvesse uma busca-apreensão na casa dele ou em uma empresa que lhe prestasse assessoria".
Serra Azul, que também teria participado do encontro em que o diálogo foi registrado, teria convencido Ramos de que essa opção era inviável, porque demoraria muito para a busca ser aprovada por todas as instâncias legais. "A colaboração dele tinha que ser clara. Ele não poderia ajudar e ficar escondido, porque ninguém saberia que ele colaborou e ele não ganharia perdão nem redução", comentou.
Serra Azul confirmou que a fita foi gravada no dia 8 de fevereiro, na Procuradoria-Geral da República, cinco dias antes da divulgação do vídeo em que Waldomiro Diniz aparece pedindo propina a Cachoeira.
No diálogo, Santoro expressa preocupação com o fato de seu superior, o procurador Geral da República Claudio Fonteles vir a saber do encontro: "Daqui a pouco o procurador-geral chega, que ele chega às seis horas da manhã. Ele vai ver o carro, ele vai vir aqui na minha sala... ele vai vir aqui, e vai ver, tomando um depoimento para, desculpe a expressão, pra ferrar o chefe da Casa Civil da Presidência da República, o homem mais poderoso do governo, ou seja, para derrubar o governo Lula".
A passagem em que Santoro faz a associação causal ou explicativa do depoimento com a "derrubada do governo Lula" tem "tom de conspiração" segundo o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, em afirmação feita em entrevista hoje, em Brasília.