Raquel Ribeiro e Iolando Lourenço
Repórteres da Agência Brasil
Brasília, – As sucessivas declarações do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT/SP), de que não é possível encerrar a tramitação da PEC paralela da Reforma da Previdência durante a convocação extraordinária gerou hoje uma enxurrada de críticas no Senado. Aliados e opositores criticaram abertamente a posição de João Paulo de não entrar diretamente nas negociações para reduzir os prazos regimentais da tramitação da proposta por ter sido contrário à realização da convocação.
Os senadores petistas Paulo Paim (RS) Serys Slhessarenko (MT), que condicionaram seus votos ao texto principal da reforma à aprovação rápida da PEC paralela, cobraram hoje na tribuna do Senado a conclusão imediata das discussões sobre o tema. "Se o acordo não for cumprido, me sentirei traído e terei total liberdade de seguir meu caminho político", disse Paim. "Não é por gênio ou gosto de algum parlamentar que a PEC paralela deve ou não ser votada. Houve um compromisso então tem prazo sim. Tem que acabar com essa pirraça", continuou Serys.
Os mais fortes ataques ao presidente da Câmara, no entanto, vieram do liberal Magno Malta (ES). Também na tribuna do Senado, Malta afirmou que a Câmara está fazendo "birra sob a batuta e o comando do presidente João Paulo." O senador disse ter respeito pelo presidente da Cãmara, mas afirmou que no momento o vê "como um menino buchudo, catarrento e pirraçento". Procurado pela Agência Brasil, João Paulo não quis responder aos ataques. Elegeu os vice-líderes professor Luizinho (PT/SP), Paulo Bernardo (PT/PR) e Paulo Rocha (PT/BA) com porta-vozes para acabar com os ataques.
"Todos sabem que a Câmara não queria a convocação, mas estamos trabalhando. Já aprovamos algumas MPs e Projetos que serão enviados ao Senado para que os senadores possam trabalhar e alguns parem de usar a tribuna para falar besteira", disse Luizinho, que considerou grave o uso da tribuna do Senado para desqualificar o presidente de um Poder. Paulo Bernardo avaliou que os ataques não representaram quebra de decoro parlamentar, mas foram uma falta de respeito. "A relação da Câmara e do Senado não pode ser de chantagem e desaforo", disse.
Luizinho lembrou que a PEC paralela não pode ser aprovada de forma tão rápida quanto queriam os senadores porque precisará ser alterada pelos deputados em pelo menos um ponto: a proposta deixa em aberto a possibilidade dos supersalários continuarem sendo pagos. "A PEC do Senado liberou o salário de marajá e nós não queremos isso. Se o Paim quer, nós não queremos. Vamos votar, mas não do jeito que veio do Senado", disse.