Delegado da Operação Anaconda elogia trabalho conjunto com Ministério Público

31/10/2003 - 19h39

Brasília, 31/10/2003 (Agência Brasil - ABr) - "Toda vez que a Polícia Federal trabalha de forma articulada com o Ministério Público Federal quem ganha é a sociedade. Esse é um exemplo de um trabalho que foi realizado. Nós consideramos também um êxito essa operação porque ela começou por iniciativa da Polícia Federal, redundou na prisão de alguns de seus integrantes, mas por outro lado reafirma o compromisso do Departamento de não ser tolerante e complacente com o desvio de conduta de qualquer de seus integrantes". O comentário foi feito pelo delegado da Polícia Federal, Reinaldo de Almeida Cezar, durante entrevista coletiva, hoje em Brasília, na qual informou detalhes da Operação Anaconda, realizada na madrugada de ontem, em São Paulo.

Na operação oito pessoas foram presas, entre elas dois delegados e um agente da Polícia Federal, três advogados, um empresário, e Norma Regina Cunha, ex-mulher do juiz federal João Carlos Matos, acusados de envolvimento na venda de sentenças judiciais que beneficiaram fraudadores e contrabandistas.

O delegado disse que 140 pessoas, entre agentes e delegados, participaram da Operação, que teve início há um ano e nove meses em Alagoas em função de uma denúncia recebida pela delegacia da Polícia Federal. A partir dessas investigações, com o apoio do Ministério Público Federal, policiais federais levantaram que a base da organização criminosa era São Paulo, com ramificações em Alagoas, Mato Grosso, Pará e Rio Grande do Sul.

Segundo o delegado Reinaldo de Almeida Cezar, outros dois juízes, os irmãos Casem Mazloum e Ali Mazloum, ambos das varas federais na capital paulista, também foram denunciados pelo Ministério Público Federal por formação de quadrilha, interceptação ilegal de telefones, ameaças e abuso de poder.

O porta-voz da Operação Anaconda não quis fornecer maiores detalhes sobre a ação, alegando "segredo de justiça". Informou, no entanto, que o relatório da missão fica pronto em 15 dias. Disse ainda que foram apreendidos 1.300 quilos de documentos, além de computadores; US$ 550 mil na casa de Norma Regina Cunha, ex-mulher do juiz federal João Carlos Mattos; US$ 42 mil na casa de outro acusado de envolvimento com a quadrilha; R$ 50 mil reais, dois quilos de ouro e 200 quilos de armas e munições. Todo o material foi transferido para a superintendência da Polícia Federal em Brasília. Os dólares foram levados para o Banco Central.

O delegado Reinaldo de Almeida informou, também, que as investigações foram autorizadas pelo o Tribunal Regional Federal, que por sua vez recebeu denúncias do Ministério Público Federal. Destacou que as provas são suficientes para assegurar a prisão das oito pessoas já detidas em São Paulo. "Foram feitas vigilâncias, acompanhamentos dos envolvidos no quadrilha, gravadas imagens e analisadas conexões entres todos eles", afirmou. O delegado admitiu que a quadrilha pode ter enviado dinheiro para o exterior de forma ilegal.

Sobre as críticas de policiais federais em São Paulo de que a ação não poderia ter sido feita por delegados e agentes de outros estados, Reinaldo de Almeida disse que o superintendente da Polícia Federal no estado, Francisco Baltazar, foi comunicado sobre a Operação, mas "não sobre os detalhes da missão". Ele ressaltou que isso foi feito porque integrantes da própria Polícia Federal em São Paulo estavam sendo investigados e, também, "para proteger o policial que é lotado na cidade aonde foi realizada a operação". Foram expedidos pela a Justiça 15 mandados de busca e apreensão e oito mandados de prisão. O inquérito já conta com 178 páginas até o momento.