Brasília, 2/9/2003 (Agência Brasil - ABr) - O Ministério do Trabalho está com três ações em andamento, que finalizam esta semana, para retirada de trabalhadores escravos de fazendas na Bahia e no Pará. Falta acertar a indenização dos direitos dos trabalhadores e, posteriormente, eles serão encaminhados às cidades de origem. Só nas duas fazendas da Bahia são cerca de mil escravos libertados.
Rondônia, Mato Grosso, Tocantins, Pará e Bahia são os estados de maior ocorrência, onde são prioritárias as ações do governo. Desde a implantação do Plano Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo, em março deste ano, até agora foram libertados 1.922 trabalhadores e pago R$ 3 milhões em indenizações. Dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) indicam que existem hoje entre 25 mil e 40 mil trabalhadores escravos no país.
O assessor da secretaria de inspeção do Trabalho, Marcelo Campos, diz que não há auditores suficientes para retornar aos locais e fazer o acompanhamento dos trabalhos nas fazendas. "São apenas 3 mil auditores para atender ao cumprimento de toda a legislação trabalhista no país, inclusive o trabalho escravo. É necessário um esforço de todo o governo, inclusive com a criação de políticas compensatórias, alternativas de trabalho e renda para os ex-escravos nos municípios de origem para que eles não se submetam a novas promessas enganosas", ressalta Marcelo Campos.
A meta do governo é fazer a erradicação em 4 anos, mas reconhece que é necessário o esforço de vários órgãos para criar alternativas de trabalho e renda para essas pessoas. Todos os anos centenas de trabalhadores saem de seus estados de origem em busca de condições de vida melhores e acabam caindo em uma arapuca. São levados para fazendas onde são presos e passam a viver como escravos.
Guilherme Pedro neto viveu uma história como essa. Em 1972, saiu de Goiás e foi levado para uma fazenda no Pará, onde trabalhou como escravo por dois anos. Ele diz que a dona da pensão já tinha combinado com um empreiteiro a venda dos trabalhadores. "Chegando lá você fala que quer se hospedar mas não tem dinheiro. A dona da pensão diz para ficar à vontade, por 10 a 15 dias, e depois acertamos as contas. O trabalhador almoça, janta e contrai uma dívida. A dona da pensão acha por direito vender o trabalhador para um empreiteiro, o ‘gato’, e nós não podemos recusar porque já está tudo combinado com o fazendeiro, o delegado e a polícia. Não há alternativa e somos levados para a fazenda para pagar a dívida", relata o ex-escravo.
Normalmente, os trabalhadores quando são libertados, retornam às fazendas porque não conseguem encontrar outro ofício. O problema se torna um ciclo vicioso. Guilherme Pedro Neto foi exceção. Conseguiu voltar para Goiás onde se sindicalizou, foi presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais de Goiás, e está há 3 anos como diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).
"Eu saí porque quando terminei o serviço me levaram de volta para a cidade e, como sei fazer vários ofícios na área rural, peguei um serviço particular em outra fazenda. Dessa vez não havia ‘gato’, recebi o dinheiro e voltei para minha cidade", conta Guilherme.