Emoção e quebra de protocolo marcam troca da faixa presidencial no Planalto

01/01/2003 - 20h20

Brasília, 01/01/2003 (Agência Brasil - ABr) - Eram cinco horas da tarde quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu a rampa do Palácio do Planalto. No alto da rampa, o ex-presidente Fernando Henrique o aguardava com um largo sorriso, como se esperasse um amigo de longa data. No encontro, mais que o formal aperto de mãos, um abraço apertado e sorrisos. Nenhum dos dois conseguiu esconder a alegria pelo momento.

Dentro do Palácio, no Salão Nobre, reservado a eventos especiais, cerca de mil pessoas aguardavam o metalúrgico que virou presidente do Brasil. Artistas, líderes de movimentos sociais, representantes de organizações internacionais, prefeitos, deputados e senadores do novo governo e da nova oposição. Mesmo esta não passou imune ao coro de simpatizantes do presidente, que cantava o jingle das campanhas de Lula.

Até o tempo resolveu ajudar. Apesar das pancadas de chuva que caíram durante toda a tarde sobre a Praça dos Três Poderes, na hora da troca da faixa São Pedro resolveu abrir o céu e permitir que a transmissão do cargo supremo do país fosse feita no Parlatório do Planalto. O público, que se manteve fiel desde o início da madrugada, foi ao delírio no momento em que Lula colocou a faixa que simboliza a presidência.

Do lado de dentro, como era de se esperar, quebra total de protocolo. Os convidados deixaram seus lugares e correram até as grandes janelas do Planalto para ver de (mais) perto a troca da faixa. Mais uma vez, a emoção tomou conta de todos. Senhores de paletó e gravata e senhoras de roupa de festa, espremidos próximos às janelas desenhadas por Oscar Niemeyer, enxugavam as lágrimas e aplaudiam sem cessar o novo presidente.

Na volta do Parlatório, os cumprimentos ao novo chefe e despedidas ao presidente que mais tempo permaneceu no cargo democraticamente. Para iniciar os cumprimentos dos representantes do Legislativo, do Judiciário, dos antigos e então futuros ministros, foi preciso que o locutor da Presidência repetisse várias que os convidados deveriam retornar aos seus locais. Não voltaram. A cerimônia continuou.

Após os cumprimentos, Fernando Henrique deixou o Palácio do Planalto acompanhado por sua esposa Ruth. Junto com eles, todos os membros do PSDB que assistiram a transmissão do cargo no interior do Palácio. O ex-líder do governo no Congresso Nacional, Arthur Virgílio Neto, informou que todos iriam para a Base Aérea para despedir-se privadamente do ex-presidente. O futuro? "Oposição responsável, até porque o Lula merece que ela seja correta", disse.

A posse dos novos ministros também virou festa. A cada nome anunciado, palmas, sorrisos e punhos cerrados para cima e sinal de vitória. A mais aplaudida foi Marina Silva, ex-seringueira que, ao ser eleita senadora, entrou para a história como a mulher mais jovem no Senado da República. Na época, Marina tinha 38 anos. Lula reservou para ela o ministério do Meio Ambiente, setor ao qual sempre foi ligada, desde os tempos de amizade com o seringueiro Chico Mendes.

Veio então o discurso no Parlatório. Ao lado da "companheira" Marisa, Lula voltou a se comprometer com a verdade para todos os brasileiros e trabalho durante "24 horas se for necessário". E pediu a ajuda de todos para vencer a fome e alcançar todos as demais promessas feitas durante a campanha, porque " a responsabilidade é nossa, também do povo que me pôs aqui". Eram 18h30 quando Lula desceu a rampa do Planalto.