Chuva dá trégua e não atrapalha posse de Lula

01/01/2003 - 20h53

Brasília, 1/1/2003 (Agência Brasil - ABr) - Em nenhum momento as chuvas esparsas registradas em Brasília nesta quarta-feira atrapalharam os momentos mais importantes em que o novo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, teve contato com o povo na Esplanada dos Ministérios. O protocolo da cerimônia foi cumprido à risca com Lula desfilando no Rolls Royce presenteado pela Rainha Elizabeth, da Inglaterra, ao governo brasileiro na década de 50, como estava previsto pelo cerimonial. Lula conseguiu subir e descer a rampa do Palácio do Planalto, onde recebeu do presidente Fernando Henrique Cardoso a faixa presidencial e deu posse a seus ministros, além de discursar no Parlatório com o tempo seco, apenas meio nublado.

"Lula teve sorte e São Pedro deu uma ajudazinha", analisaram assessores do novo governo. Na Catedral, onde embarcou no Rolls Royce, com a capota abaixada, seguindo para o Congresso, não caiu uma gota de chuva. Em contrapartida, das 15h15 às 16h05, tempo em que permaneceu no Congresso onde foi empossado pelo presidente do Congresso, senador Ramez Tebet, choveu forte, mas as cerca de 30 mil pessoas que se concentravam na Praça dos Três Poderes pareciam não se incomodar com a chuva e ouviram atentamente o discurso do presidente já empossado, transmitido ao vivo por grandes caixas de som e telões espalhados pela Esplanada dos Ministérios

Ao chegar ao Palácio do Planalto, às 17h, para subir a rampa, gesto que Lula havia prometido cumprir mesmo "que chovesse granizo", o sol reapareceu e não o obrigou a receber a faixa de Fernando Henrique, com o terno novo molhado. Naquele instante, foi aclamado pelos cerca de 30 mil populares que estavam na Praça dos Três Poderes, de acordo com avaliação do coronel Guerra, responsável pela atuação dos cerca de dois mil policiais militares posicionados nas imediações da praça, que cantavam jingles de campanha e agitavam bandeiras vermelhas, verdes e amarelas.

Antes de subir a rampa, ladeado por 64 Dragões da Independência, onde no topo o aguardava o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Lula ouviu emocionado a execução de trechos do Hino Nacional brasileiro. Em seguida, ambos, acompanhados pela Primeira Dama, Marisa Letícia, o vice-presidente, José Alencar e sua mulher, Mariza Alencar e o ex-vice-presidente, Marco Maciel e esposa, Ana Maria, foram para o Parlatório, onde houve a transmissão da faixa presidencial. Foi o clímax da festa: os quatro (Lula, Fernando Henrique, dona Ruth e Marisa Letícia) se deram as mãos e ergueram os braços num gesto de saudação à multidão, e em seguida, se abraçaram e se beijaram carinhosamente. Após a solenidade, Fernando Henrique e dona Ruth deixaram discretamente o Palácio do Planalto por volta das 17h45, e seguiram para a Base Aérea de Brasília, de onde viajaram para São Paulo.

De volta ao Salão Nobre, Lula cumprimentou as autoridades presentes e deu posse aos novos ministros. Durante os cerca de 60 minutos em que permaneceram no interior do Planalto, a chuva, mesmo fina, voltou a cair. Terminada essa etapa da cerimônia, Lula, Marisa Letícia, José Alencar e Mariza Alencar voltaram ao Parlatório. O novo presidente fez um discurso, de improviso, o momento mais aguardado pelos populares que o aplaudiram diversas vezes. Um dos momentos foi quando reafirmou, em sua fala de cerca de 20 minutos, seus compromissos para com a nação na área social, sobretudo as ações que pretende adotar para melhorar a educação, saúde, o processo de reforma agrária, a previdência social e as medidas destinadas a acabar com a fome no país. "Amanhã vai ser meu primeiro dia de governo e eu prometo a cada homem, a cada mulher, a cada criança que o presidente da República, o vice-presidente e os ministros vão trabalhar, se for necessário, 24 horas por dia para cumprir o que prometemos".

Lula disse ainda diante da população e de diversas autoridades estrangeiras, entre elas o presidente de Cuba, Fidel Castro, acomodadas num palanque, na área externa do Planalto, que sua chegada ao poder não era uma conquista apenas sua ou do PT, o seu partido, mas de todos os que morreram ou sofreram algum tipo de prejuízo, perseguindo o ideal de modificar o país: "eu não sou resultado de uma eleição. Sou resultado de uma história", afirmou Lula. Várias vezes o presidente fez referências à Primeira Dama, Marisa Letícia, com quem está casado há 28 anos. "Quero fazer uma homenagem a Marisa, minha companheira, que está muito bonita, elegante ao lado do marido dela com essa faixa que sonhamos por muito tempo".

Lula disse ainda que "amanhã estará iniciando a campanha contra a fome no país, relembrando que quer cumprir um sonho antigo, de se fazer com que cada brasileiro pobre, ao final dos quatro anos de mandato, tenha garantido três refeições diárias.

Às 18h30, Lula, Marisa Letícia, José Alencar e Mariza Alencar desceram a rampa do Palácio do Planalto. Embarcaram mais uma vez em carros separados e seguiram para cumprimentar as milhares de pessoas que se encontravam na Esplanada. Mais uma vez São Pedro ajudou e uma pequena nesga de sol voltou a brilhar sobre a Esplanada dos Ministérios