da Agência Brasil
Brasília - Opresidente do Instituto de Desenvolvimento Rural e de Terras doParaguai, Alberto Alderete, anunciou que o governo de Fernando Lugodecidiu recuperar terras entregues ilegalmente a ex-funcionáriose militares. Ele confirmou a intenção do presidente de avançar nas discussões sobre reformaagrária no país, “apesar das limitações”.As informações são da agência argentinaTelam.
“Cercade 42% da população do Paraguai vive em zonas rurais esobrevive exclusivamente da terra, da pequena agricultura. Um dosproblemas mais graves é o da crise rural, da alta concentraçãode terras em poucas mãos e da enorme quantidade deagricultores sem propriedades”, avaliou Alderete.
Segundo ele, o Paraguai lidera aconcentração de terras na região sul-americana, ultrapassando os índicesregistrados no Brasil. Ele acredita que essa situaçãofez com que as políticas voltadas para a reforma agráriaprovenientes de governos anteriores registrassem “altos graus de corrupção”, além de terem “impacto ínfimo” na distribuição de terras.
Por essarazão, segundo Alderete, as terras paraguaias, nas últimasdécadas, foram entregues a pessoas “que não deveriamser beneficiadas”, como políticos, militares, banqueiros,empresários e “todos os setores ligados ao poder”.
Na semanapassada, um informe de organizações do setor entregueao presidente Lugo revelou que, entre 1954 – ano em que teve inícioa ditadura de Alfredo Stroessner – e 2003, 7,8 milhões dehectares foram distribuídos ilegalmente no Paraguai.
Aldereteadmitiu que a situação no país vizinho àsvezes “assusta”, diante dos escassos recursos e de uma demanda“extraordinária” por terras. Ele disse ter confiança deque as organizações campesinas têm contribuídopara dar início ao processo de reforma agrária, masreforçou a existência de “graves limitações”para a redistribuição de terras.
“Alegislação nacional mantém uma camisa-de-força,já que obriga o Estado a pagar de forma prévia umefetivo a preço de mercado para expropriar terras elatifúndios improdutivos. Os proprietários ineficientessão premiados com altos preços. Isso encarece muito umapossibilidade de reforma e constitui um verdadeiro obstáculopara que haja impacto real.”
Emrelação às invasões de terra no Paraguai,Alderete explicou que foi estabelecido diálogo comorganizações de sem-terra para que “enquadremsuas ações no marco da legalidade”. Já aospequenos e médios agricultores, a determinação éque “cumpram suas obrigações de reflorestar e de nãoenvenenar as águas”.
Eleacredita que o Paraguai registra um fenômeno de“estrangeirização” na lista de problemas do setoragrário, uma vez que os proprietários estrangeirosocupam “uma fração importante” do territóriodo país. Não se trata, segundo Alderete, apenas deagricultores brasileiros que buscam “hectares baratos e de primeiraqualidade”, mas também europeus, “sobretudo,alemães que, nos anos 80, compraram terras para especularcomo forma de poupança, incentivados pelos própriosfuncionários paraguaios”.