Movimento de Justiça e Direitos Humanos do RS cobra abertura dos arquivos da ditadura militar

26/06/2008 - 18h08

Lúcia Norcio
Repórter da Agência Brasil
Curitiba - O Brasil aparece como um dos  países que exerceu  papel  centralna Operação Condor, segundo documentos apresentados hoje (26),  pelo conselheiro do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul, Jair Krischke, durante o encontro Anistia e Democracia- Direito à Memória e à Verdade, em Curitiba. Promovido pela represen tação do Grupo TorturaNunca Mais no Paraná, o evento marcao  Dia Mundial da Luta Contra a Tortura. Para Krischke, o país só terá dimensão exata das ações da repressão quando forem abertos os arquivos da ditadura militar.A Operação Condor consistiu em umaarticulação das ditaduras militares do Cone Sul, durante os anos 70, para reprimir os movimentos de oposição. “Em 1970, o Brasil játreinava repressores em técnicas de tortura. É preciso que se diga isso. Aditadura brasileira foi mais seletiva, mas tem responsabilidades muito grandesem todo o processo”, denuncia Krischke. No entanto, destacou ele, os militares brasileiros sempre tiveram a cautela de não deixar impressões digitais.Segundo o conselheiro do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do RS, a história atual precisa sercontada com a abertura dos arquivos da repressão. “O nosso vizinho, o Uruguai, com três milhões de habitantes, tem atualmentedois ex-presidentes na prisão, o último presidente da democracia e o daditadura. Além disso,  ministros e vários oficiaisestão presos. No Brasil, ninguém  édenunciado”, critica.  Para ele, o Brasil só vai viver plenamente a democracia quando souber “quem foi quem e quemfez o que” na sua história.

Victoria Grabois, vice-presidente do Grupo TorturaNunca Mais, do Rio de Janeiro, fez um histórico da  luta do grupo em todo o país. Criado no  Rio de Janeiro em 1985,  o Tortura  Nunca Mais se estendeu para os estados de São Paulo, Pernambuco, Bahia, Paraná e Minas Gerais. “Nesse momento, nossa grande luta é pela abertura dos arquivos daditadura.  Os da  Marinha, Exército, Aeronáutica e da PolíciaFederal. Só assim a história do Brasil será conhecida”, afirmou.

Entre todos os países daAmérica Latina, assinalou ele, o Brasil é o único que ainda resiste a essa abertura. Na avaliação de Victoria, a impunidade é responsável pela continuidadeda violência.  “Temos mais de 400 mortose desaparecidos cadastrados no Grupo Tortura Nunca Mais. Desse total, 200 sãodo Rio de Janeiro, onde ocorreu a maioria das prisões na época de ditadura."O encontro Anistia e Democracia - Direito à Memória e àVerdade termina amanhã (27), com a presença da Caravana da Anistia, doMinistério da Justiça, que realizará uma sessão de julgamento de processos de perseguidos políticos do Paraná.