Fernando Henrique diz que contas da Presidência sempre foram abertas

26/03/2008 - 14h54

Paulo Montoia *
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O ex-presidenteFernando Henrique Cardoso disse hoje (26) que ficou constrangido pelaforma como determinados gastos com cartões corporativos noperíodo do seu mandato foram publicados na imprensa. De acordocom o ex-presidente, gastos do protocolo ficaram parecendo que eramgastos pessoais.“Eu fiqueiconstrangido com a forma. Por quê? Por exemplo, lá sediz o seguinte: não sei quantas, 100 garrafas de champanhe,eleições, dia 28 de dezembro. Ora, é mentira. Nodia 28 de dezembro não tinha eleição.Provavelmente sabe o que ocorreu, não foi gasto meu, foi gastoprotocolar. Houve uma recepção, da posse. Échampanhe nacional. Isso aparenta para um publico maior, que nãosabe do que se trata, 'tá tomando champanhe'. Ou então,a Ruth [Cardoso, primeira-dama] gastou R$ 100 para comprar umnão sei o quê numa visita à Colômbia. Nãofoi ela. Se alguém gastou, foi o cerimonial, que retribuiu umpresente, coisa normal. Não é coisa pessoal. A maneiracomo aparece é que está errada. Então veja tudodireitinho como é para não dar essa falsa sensaçãode que você está usando mal os recursos públicos,quando não está. Não vamos fazer um cavalo debatalha. Eu acho que se eu fosse o presidente Lula, eu diria o que eudisse: 'olha venham ver o que eu fiz com o dinheiro, como éque foi gasto esse dinheiro'. Não tem problema nenhum. Abre,mostra, é melhor”.Questionado por umjornalista se ele esperava que o presidente Luiz Inácio Lulada Silva abra as contas dos gastos com cartões como ele teriaaberto, Fernando Henrique disse que há uma confusão eequívocos nesse ponto. “Veja, eu nãoabri nada, sempre estiveram abertas. Aqui se criou uma noçãoequivocada. Não existe conta sigilosa ou secreta daPresidência da República, e tampouco sãopessoais. Porque em coisa pessoal nunca houve dinheiro público.Não pode haver. Nem comigo nem com o presidente Lula. Sãocontas do governo, são gastos do palácio, contasprotocolares. Está havendo uma grande confusão. Sehouver dinheiro público para gasto pessoal, não pode,está errado”, afirmou.Quanto a aspectos de segurançaenvolvidos nos gastos dos cartões, ele disse que “segurançaé outra questão”.“Que eu saiba, euchequei isso com os meus ministros, não havia contas secretaspor razões de segurança. Obviamente você nãovai anunciar o que é que o presidente vai fazer, para onde éque ele vai, quem vai acompanhá-lo, é obvio. Outracoisa é, passado um tempo, essas contas são públicas.O que é gasto de segurança? É o deslocamento, éa comida, a alimentação dos seguranças. Nãohá segredo nisso. Naquele momento, obviamente, ninguémvai estar anunciando de antemão. Eu pessoalmente nãovejo que haja matéria complexa nisso, desde que haja bomsenso”.O ex-presidente defendeu o uso dos cartõescorporativos. “São bons porque o corporativo deixaregistrado o que fez e porque fez. O que é errado épegar o cartão corporativo e tomar dinheiro, usar para receberdinheiro e não explicar. Aqui há dois fatos que têmde ser esclarecidos. O resto é confusão política.O Tribunal de Contas [da União] já aprovou asminhas contas, a Secretaria de Controle Interno da Presidênciatambém, tudo isso é onda para disfarçar. Hácoisas erradas no passado? O que tem de errado está dito eestá visto - e é preciso ver porque é que estáerrado e se está errado mesmo - é, primeiro, tem muitocartão corporativo, foi multiplicado por dez o númerode pessoas que usam o cartão corporativo. Isso tem de serexplicado. Pode ser justo, ou não. Segundo, o enorme volume derecursos retirados sob a forma de dinheiro. O cartãocorporativo não é para retirar dinheiro, é parapagar e ficar registrado. Se você tira R$ 20 mil em dinheiro enão diz o que fez, alguma coisa está errada. Esses sãoos fatos concretos que têm de ser objeto da CPI [dos CartõesCorporativos] e é isso que deu origem à CPI, porquesão fatos determinados. Com relação ao passado,não tem nada determinado e é mera exploraçãopolítica”.O ex-presidente Fernando Henrique Cardosofalou à imprensa após participar da mesa de abertura deseminário promovido pela Associação Brasileirade Agências de Regulação (Abar), na sede daFederação das Indústrias do Estado de SãoPaulo (Fiesp).