Petterson Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A Secretaria de Saúde de São Paulo divulgou estudo recém-concluído que aponta maior incidência de casos de tireoidite de hashimoto (TH), uma doença autoimune que ataca a tiróide, na região do Pólo Petroquímico de Capuava, localizado em Santo André, no ABC paulista.Em 2002, segundo a secretaria, o Ministério Público pediu esclarecimentos e, desde então, o caso vem sendo observado e estudado pela Divisão de Doenças Ocasionadas pelo Meio Ambiente (Doma) e pelo Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE). Isso ocorreu após uma médica endocrinologista relatar várioscasos da doença entre a população residente no entorno das empresas petroquímicas deCapuava.“Foi um estudo em que nós tentamos comparar a prevalência da doença no pólo e a prevalência da doença em uma área controle [em Serraria, bairro da cidade de Diadema] de tireoidite de hashimoto. Neste caso, numa área que estivesse fora da influência do pólo, mas que também fosse industrializado”, disse a médica sanitarista Clarice Umbelino de Freitas, que fez parte da equipe responsável pelo estudo.A tireoidite de hashimoto é uma doença autoimune em que [a pessoa] começa a construir anticorpos contra sua própria tiróide, glândula endócrina que realiza importantes funções metabólicas no organismo. “Começa um processo de destruição e o organismo começa a ser agredido pelos próprios anticorpos”, diz a médica Maria Fernanda Barca, doutora em endocrinologia daUnidade de Tireóide do Hospital das Clínicas da Universidade de SãoPaulo.Foram examinadas para o estudo 781 pessoas residentes no entorno do Pólo Petroquímico, em bairros das cidades de São Paulo, Mauá e Santo André, e outras 752 pessoas residentes no bairro Serraria, no município de Diadema, região industrializada também localizada na Grande São Paulo e escolhida por ter características semelhantes às do pólo, embora sem indústria petroquímica.“Foi aplicado um questionário a todos os participantes, foi colhido exame de sangue e urina [para dosagem de iodo] e em 10% da população foi colhido sal de cozinha que estava sendo usado naquele dia”, explicou a médica sanitarista.“O que nós encontramos foi realmente uma prevalência um pouco maior no pólo do que na área controle", disse ela, que reconhece não saber o motivo.Outros fatores chamaram a atenção dos pesquisadores, como a elevada taxa de outros tipos de problemas de tireóide e dos níveis de iodo na urina encontrada em ambas as áreas estudadas. “Estes achados precisam ser melhor avaliados”, diz o relatório do estudo.“Nós estamos propondo que [o estudo] continue envolvendo a Cetesb, as universidades, que serão cruciais nessa questão, os municípios e talvez o Ministério Público e as empresas do pólo para que a gente continue a investigar essa questão”, afirmou a sanitarista.