Consumidor já presta mais atenção nos juros do crediário, aponta economista

26/02/2008 - 18h52

Sabrina Craide
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Apesar deos brasileiros terem o costume de olhar mais para o valor daprestação do que para os juros que estão pagando emuma compra parcelada, os consumidores começam a ficar mais atentos às formas de financiamento que podem valer mais a pena. A constatação é do economista Elder Linton Alves de Araújo, aoanalisar os números do Banco Central apresentados hoje (25).Naavaliação dele, a elevação dos juros emjaneiro, em conseqüência do aumento de 0,38% do Imposto sobreOperações Financeiras e de outras taxas bancárias,deixou os consumidores mais atentos: “Se de um lado olha-se aprestação para ver se cabe, por outro o consumidor começa a comparar as diversas modalidades de crédito. Se houverbancos concorrentes oferecendo créditos similares, o tomadortenderia a procurar aquele de custo menor.”Araújo afirma que isso pode ser demonstrado pela estabilidade da taxa deinadimplência, que ficou na média de 4,5% em 2007, e pelocrescimento moderado de novas concessões de crédito.“Parece-me que as pessoas estão pegando crédito para cobrir dívidas anteriores, que estavamatrasadas ou mais caras, e isso mantém a inadimplênciamais ou menos estável”, avalia.

Jáo vice-presidente Associação Nacional dos Executivos deFinanças, Administração e Contabilidade(Anefac), Andrew Storfer, acha que os brasileiros continuamolhando apenas para a parcela que cabe no bolso: “Deveriam estarmais atentos ao que pagam de acréscimo de juros, mas isso fazparte de uma educação financeira que vem com o tempo.”

Para ElderAraújo, o aumento dos juros do crédito nãodeve frear a expansão dos financiamentos no país e ainda há espaço para crescimento, embora "num ritmo um pouco mais lento”. O volume de créditos corresponde, atualmente, a 34,8% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas produzidas no país) e o economista lembra que ainda é baixo, comparado a outras economias, "onde o percentual pode chegar a 70% do PIB". 

Ele alerta, no entanto, para o alto grau de endividamento dos consumidores: "O problema da expansão do crédito seriauma inadimplência forte. E aí, mesmo com taxa de juros menor, eles não conseguiriam ter acesso ao crédito ou mesmo honrar os compromissos anteriores."

O vice-presidente da Anefac também alerta para o comprometimento da renda da população: "Qualquer turbulência, como uma doença ou despesa inesperada, que perturbe a renda de quem tomou o crédito, pode aumentar a inadimplência." Paraevitar uma paralisação na oferta de crédito,com um nível de inadimplência elevado, Araújoaconselha que os consumidores evitem fazer dívidas acima da capacidade de pagamento. E que os bancos não emprestem dinheiro sem garantia, cuidando do cadastro dos clientes.

ParaStorfer, além do aumento do IOF e da ContribuiçãoSocial sobre Lucro Líquido (CLSS), o aumento dos juros docrédito foi causado pelo medo das instituiçõesfinanceiras de que a inflação e a taxa básica dejuros (Selic) também tenham reajuste positivo. “Estãotomando uma ação preventiva para que não tenhammargem de lucro prejudicada por eventuais subidas de inflaçãoe da taxa básica”, afirma.