Combate ao narcotráfico é o principal desafio da segurança internacional, diz diretor da PF

26/02/2008 - 20h36

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O combate ao narcotráfico é o principal desafio da segurança internacional, avaliou o diretor de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, Roberto Troncon. Hoje (26), durante a realização do Simpósio Internacional Segurança e Políticas Públicas sobre Drogas, no Rio de Janeiro, ele afirmou que as drogas ilícitas são uma espécie de "commodities” (grãos e minerais comercializados no exterior) do "submundo do crime". “E esse comércio existe porque continuam existindo consumidores”, afirmou.“Há consumidores, há demanda em todo o mundo. E quanto mais se aumentam os mecanismos de repressão, maior valoração adquirem esses bens. Logo, há uma alta e rápida lucratividade”, afirmou Troncon em entrevista à Agência Brasil. Segundo ele, o tráfico é explorado por organizações criminosas bem estruturadas, em maior ou menor grau. Embora algumas drogas, como a cocaína, tenham a produção centrada “em dois ou quatro países da região andina”, para chegar aos consumidores do mundo inteiro elas têm que passar por um processo de comércio exterior ilícito.Nesse contexto, o diretor da Polícia Federal afirmou que o enfrentamento ao tráfico de drogas é uma prioridade mundial, “porque é a grande fonte de recursos dessas empresas do crime, que obtêm de forma rápida vantagens econômicas e estabelecem um poder econômico que acaba ameaçando estados por uma outra ordem de crimes associados”. Entre eles, Troncon enumerou os crimes violentos contra pessoas, a corrupção de agentes público e a infiltração no aparelho do Estado. Essa infiltração aconteceria sob a forma de “patrocínio do ingresso de pessoas em cargos públicos-chave, que vão desde agentes penitenciários, juízes e, até mesmo, o favorecimento de pessoas para ocupar cargos eletivos nos três níveis de governo”, indicou.“O tráfico de drogas é um fenômeno com o qual nenhuma nação do mundo pode se dar ao luxo de dizer que não sofre conseqüências”, assegurou o diretor. A estratégia brasileira no combate ao narcotráfico passa, segundo afirmou Troncon, pela integração entre os estados, no campo doméstico, e entre os vários países, na esfera internacional. Ele reconheceu que não é uma ação simples, nem existe uma fórmula ou modelo a ser aplicado, uma vez que depende de vários fatores, como o local e a origem do país com o qual está se relacionando.Essa integração prevê desde o intercâmbio de informações em nível policial às entregas vigiadas e a realização de operações conjuntas e simultâneas em vários países, “potencializando o elemento surpresa para facilitar a prisão de suspeitos”, além da apreensão de provas de crimes e interdição de drogas.Roberto Troncon enfatizou que uma tarefa prioritária no combate ao crime organizado é a recuperação de ativos. “O enfrentamento do narcotráfico e de organizações criminosas em geral passa pela afetação do seu patrimônio. Não basta colocar na cadeia o presidente ou os diretores de uma grande empresa do crime. Você tem que bloquear, confiscar, seqüestrar o patrimônio dessa empresa, para levá-la à bancarrota”, avaliou o diretor da Polícia Federal.Ele afirmou ainda que a sociedade deve se conscientizar de que algumas ações podem contribuir tanto para o fomento do narcotráfico como para amenizar esse problema no país. “É indissociável a ligação entre o usuário de classe média e média alta da cocaína com o fenômeno da criminalidade e da exploração do narcotráfico em regiões paupérrimas de favelas”, apontou.