Hugo Costa
Enviado especial
Salvador - Desde cedo, milhares de pessoas acompanham nas ruas da cidade a saída do tradicional Mudança do Garcia. Os participantes do bloco, fantasiados e levando cartazes e alegorias, são reconhecidos por manifestar sua insatisfação com bom humor e irreverência. O bloco leva o nome dobairro onde o movimento de protestos teve início, na décadade 40. É lá que os foliões se concentram e pela manhã alguns já chamavam aatenção por onde passavam. Ao som de marchinhas carnavalescas, um grupo de feministas dançava e exibia cartazes com frase como “Respeite o corpo damulher! Não ao controle da Igreja e da mídia”.Outra participante mostrava cartaz em que se lia “Homem que bate e mulher já tem umasenha: Lei Maria da Penha”, em referência à lei que tornou mais rígidos osprocedimentos para penalizar os agressores de mulheres.Uma das mais animadasdo grupo, a socióloga Luiza Bairro disse que o carnaval éum momento propício para esse tipo de iniciativa.“Nós estamosaproveitando essa oportunidade de trazer para a populaçãoa consciência de que vários tipos de violênciaainda são realidade da mulher na Bahia. E isso precisa sercombatido. Sem dúvida alguma, o Mudança do Garcia éuma oportunidade para isso”, opinou. Liderado por ummovimento de aposentados, outro grupo explorou o bom humor emprotesto contra as condições de postos de saúdee hospitais. Em uma espécie de cortejo fúnebre, um caixão era transportado em cima de um carro preto. Adesivos distribuídos pelo grupo traziam um trocadilho com a sigla SUS, do sistema de saúde pública: "Sistema Único de Suicídio". “Hoje nósvemos os aposentados morrendo na fila dos hospitais. Antigamente, oINSS [Instituto Nacional do Seguro Social] oferecia boa assistênciamédica, mas hoje não tem”, disse o aposentadoValmir Bastos, ao explicar o motivo do protesto. Outros grupos protestavam contra o bloqueio de aparelhos de telefonia celular e faziam também sátirasa personagens de programas de televisão. Ponto de partida paravários grupos participantes, a casa de Dona Zuzu éreferência dos foliões de Salvador. Neste ano ela completa 101 anos e se disse orgulhosa do carinho recebidodurante a festa popular. “Sinto-me bem, sendo homenageada todos osanos. Antes o carnaval era melhor, porque tinha marchinhas, mas agoratambém está bom”, afirmou, animada.