Moradores de reservas na Amazônia são preparados para administrar recursos naturais

28/01/2008 - 18h50

Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os moradores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá deverão assumir, gradativamente, a responsabilidade pela maioria das atividades que hoje desenvolvem com a assessoria do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. As comunidades precisarão demonstrar que podem se sustentar sem degradar o local, informou a diretora de Manejo de Recursos e Desenvolvimento Social do instituto, Isabel Soares de Sousa. "Algumas delas vêm recebendo assessoria para fazer o manejo dos recursos naturais há quase anos. Com a responsabilidade, poderemos ir para outras áreas da reserva", disse.

Desde a criação da reserva, em 1990, explicou, os habitantes de Mamirauá foram informados de que a assessoria do instituto seria temporária: “Nosso trabalho visa à sustentabilidade. As pessoas precisam saber que um dia terão de fazer sozinhas muitas das ações que desenvolvemos”. A proposta, desenvolvida também em Amanã – reserva de 2,313 milhões de hectares contígua a Mamirauá –, é que o instituto possa assessorar outras comunidades. Hoje, das 218 localidades de Mamirauá, 38 se beneficiam das ações do instituto para a pesca, agricultura, extração de madeira, artesanato e turismo sustentável. Em Amanã, são 14 de 79 localidades.

“Se não transferirmos responsabilidades para as comunidades, nunca conseguiremos atingir toda a área das reservas. Atualmente, temos 52 localidades envolvidas em programas de manejo de recursos naturais. Dez a 15 delas já podem ficar mais independentes”, informou Isabel de Sousa. Técnicos e pesquisadores farão o acompanhamento apenas nas atividades em que forem imprescindíveis. A diretora exemplificou: "Eles sempre irão depender de um engenheiro florestal para elaborar o plano de manejo florestal e obter a licença dos órgãos responsáveis."Ela citou a pesca do pirarucu, importante atividade econômica da região, como exemplo de capacitação das comunidades. “Para fazer esse manejo é preciso contar os peixes, um a um, em cada lago. A atividade, hoje, é acompanhada por técnicos do instituto, mas trabalhamos para que os próprios pescadores garantam a confiabilidade dos dados e não precisem mais da presença do técnico", disse.

Hoje, os pescadores ajudam os técnicos a identificar e contar os peixes, a cada vez que eles sobem à tona para respirar. Só é permitida a pesca de 30% dos pirarucus adultos machos de cada lago. “As próprias comunidades deverão ter, em breve, a capacidade de pesar o peixe, medir, botar o lacre e preencher os relatórios necessários para que o Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] aprove o plano de manejo do próximo ano”, informou.  O Instituto Mamirauá ainda não definiu prazo para deixar as comunidades que já assessora. "No começo, não sabíamos de quanto tempo uma comunidade precisaria para desenvolver o trabalho sozinha. Agora, com a experiência, já sabemos que muitas dessas atividades podem ser feitas por elas já a partir do terceiro ano, mas isso varia de acordo com a comunidade", explicou.