Em conversa com Lula, Fidel volta a criticar produção de biocombustíveis

28/01/2008 - 19h58

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O presidente licenciado de Cuba, Fidel Castro, defendeu a produção de alimentospelo Brasil e condenou a produção de biocombustíveisna conversa de duas horas e meia que teve com o presidente LuizInácio Lula da Silva no dia 15 deste mês, em Havana.Trechos do diálogo foram relatados pelo líder cubano emtrês reflexões publicadas no jornal Granma, órgão do PartidoComunista Cubano.Em artigos anteriores,Fidel havia criticado a produção debiocombustíveis em detrimento do cultivo degrãos – insinuou, inclusive, que isso teria sido defendidopelo presidente norte-americano, George W. Bush, em encontro comLula em Camp David, nos Estados Unidos, em março do ano passado. Agora, o líder cubano aproveitou o reencontro com o presidente brasileiro para convencê-lodo contrário. Na conversa, o líder cubano cita "as importantes reservas de petróleo cru" descobertas recentemente pela Petrobras e lembra que a população mundial precisa cada vez mais de alimentos, dos quais o Brasil é grande exportador. “Se se dispõe de grãos ricosem proteínas óleos e carboidratos - que podem serfrutos como a castanha de caju, a amêndoa e o pistache, raízescomo o amendoim, a soja com mais de 35% de proteína, ogirassol ou cereais como o trigo e o milho –, é possívelproduzir a carne ou o leite que desejares”, ponderou Fidel. E acrescentou: “Vocês têm tem agora as duascoisas: fornecimento seguro de combustível, matériasprimas alimentícias e alimentos elaborados”. Ele disse ainda ter argumentado que os Estados Unidos estão retirandodo mercado uma grande quantidade de milho para produzir etanol. Lula explicou que oBrasil não depende do milho, como os Estados Unidos e o Méxicoou a América Central, e disse acreditar que a produçãode biocombustível à base de milho não se sustentarános Estados Unidos. “Isso confirma uma realidade comrelação à subida impetuosa e incontroláveldos preços dos alimentos que afetará muitos povos”,diz Fidel. Em outro trecho da conversa, relatado em artigopublicado hoje (27), Lula frisa que o Brasil tem umasituação privilegiada, pois, de seus 850 milhõesde hectares de terra, 400 milhões são bons paraagricultura. E a cana-de-açúcar, informou Lula, ocupaapenas 1% destas terras – a cana é a matéria primautilizada para a produção brasileira de etanol.Fidel e o presidente brasieliro tambémconversaram sobre integração e os rumos da esquerda latino-americana. Observando o velho amigo, Fidel lembra de quando seconheceram, em Manágua, em 1980, porocasião do primeiro aniversário da RevoluçãoSandinista – que acabou com 45 anos de ditadura na Nicarágua.E evita falar sobre o processo político brasileiro para que não pareça interferência em assuntos internos do país. ÉLula quem comenta: “Você se lembra, Fidel, quando falamos doForo de São Paulo e me disseste que era necessária aunidade da esquerda latino-americana para garantir nosso progresso?Pois já estamos avançando nessa direção”.Lula ainda comentou sobre o que Fidel definiu como “elevado níveldas relações internacionais”do Brasil, enumerouavanços do país em diferentes áreas e “faloucom veemência sobre as obras sociais do Partido doTrabalhadores”, revela o líder cubano.