Indígenas do povo Guarani-Kaiowá denunciam abusos e intimidações

01/11/2007 - 19h12

Camila Vassalo
Da Agência Brasil
Brasília - Índios da etnia Guarani-Kaiowá, da terra Nhanderu Marangatu, denunciam abusos eintimidações por parte dos seguranças que cuidamda fazenda Fronteira, onde a aldeia fica localizada. A áreafica a 6 quilômetros do município de Antonio João,em Mato Grosso do Sul.

Para o professor da comunidade,Isaías Sanches Martins, a tensão na aldeia épermanente. Segundo ele, os seguranças da fazenda intimidam apopulação indígena com armas e jáestupraram, este ano, três mulheres.

Na última terça-feira(30), outro episódio assustou a comunidade: os segurançasdispararam vários tiros em direção a um grupo decrianças que estava brincando. “Felizmente, nenhuma delasfoi atingida”, garantiu Martins.

Na última quarta-feira (31), aPolícia Federal apareceu na aldeia. Segundo Martins, osindígenas realizavam um ritual em homenagem aos mortos. A denúncia apurada pelos policiais era de que osíndios estavam tentando invadir áreas da fazenda. “Acomunidade se sentiu intimidada”, disse.

Para a integrante da Convençãodos Direitos indígenas de Mato Grosso do Sul, Leia Aquino, “aPolícia Federal não tem atendido aos chamados dosíndios. Eles só aparecem na fazenda quando sãochamados pelos donos da fazenda”.

Procurada pela AgênciaBrasil, a Polícia Federal afirmou que sempre vai àaldeia quando é chamada e que, da última vez que esteveno local, nenhuma irregularidade foi constatada.

Leia Aquino confirmou os estupros amulheres da aldeia e acusou os seguranças da fazenda. Segundoela, na semana passada mais um caso foi registrado, dessa vez, umasenhora, que buscava lenha nas proximidades da aldeia. O marido davítima também foi agredido, e os dois foram levados aohospital do município mais próximo.

“As intimidações eagressões vem acontecendo desde o dia 5 de outubro quando osseguranças armados começaram a disparar balas a cercade 50 metros das casas dos indígenas”, disse Aquino.

“Homens e mulheres que saem parabuscar lenha são agredidos e quando chamamos a PolíciaFederal eles não aparecem”, alertou.

De acordo com o professor Martins, acomunidade já enviou um ofício para o MinistérioPúblico Federal informando sobre a situação enfrentada no local, mas até agora não recebeuresposta e não houve providência.

A área ocupada pelos Guarani-Kaiowá foi demarcada em 2004 e homologada em março de 2005pelo presidente da República, mas foi anulada no mesmo ano.

De acordo com Martins, os índiosforam despejados na rodovia 384 no dia 15 de dezembro daquele ano,onde ficaram por sete meses. Dias depois o líder dos Guarani,Abravalino Rocha, foi morto no portão da Fazenda Fronteira.

A Agência Brasil entrou em contato com a Fundação Nacional do Índio(Funai), mas até o fechamento desta matéria, a entidade não se manifestou sobre o caso.